"Risco de fecho de urgências mantém-se." Acordo entre médicos e Governo pode não ser suficiente
A situação nas urgências é "explosiva" e o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Emergência aponta culpas ao primeiro-ministro e à bancada do Partido Socialista.
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Um acordo pode não resolver o problema de fundo do Serviço Nacional de Saúde. O aviso é do movimento que desencadeou a recusa dos médicos a fazerem mais do que as 150 horas extraordinárias previstas na lei. No domingo, numa longa reunião, sindicatos e Ministério da Saúde deram conta de alguma aproximação, mas ainda insuficiente para um entendimento.
Ouvida no Fórum TSF, Helena Terleira, a médica que tem liderado este movimento, acredita que só haverá acordo se este for bom para todos os médicos, mas avisa que, mesmo com entendimento, compete a cada médico decidir o que fazer.
"Nós fazemos as nossas 40 horas, fazemos as nossas 12 ou 18 horas de urgência e já cumprimos 150 horas. As pessoas aceitarem fazer mais horas depende de cada um de nós. Até agora, esta situação nunca se colocou, porque havia, de facto, alguns colegas que colocavam as minutas todos os anos, mas era um número muito pequeno. Agora é um número enorme, é um número substancial, já deve rondar as 4000 minutas colocadas, o que transforma um assunto que supostamente não seria um assunto num assunto desta gravidade", afirma.
Vítor Almeida, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Emergência, aponta o dedo ao primeiro-ministro por uma "situação explosiva" nas urgências.
"Custa-me um pouco que se aponte os dedos constantemente ao ministro e ao doutor Fernando Araújo, quando o responsável máximo é o primeiro-ministro. No meio desta discussão sobre a sobrevivência da SNS temos outra frente, uma frente grave, que foi aberta novamente pela bancada do Partido Socialista, por exemplo, na discussão daquilo que são jovens profissionais. Há aqui múltiplas frentes e que são claramente incendiadas, neste momento, pelo primeiro-ministro e pela bancada do Partido Socialista", atira.
Xavier Barreto, presidente da Associação de Administradores Hospitalares, tem esperança para um acordo entre os médicos e o Governo na terça-feira, mas receia que não seja suficiente.
"O risco de encerramento de urgências mantém-se até existir um acordo e, mais do que isso, até existir um reafirmar de disponibilidade dos médicos para realização de horas extra, porque depois do acordo teremos de ter a certeza de que os médicos que demonstram indisponibilidade para realizar mais horas extraordinárias voltam atrás na sua intenção de recusa e que voltem a realizar essas horas e, portanto, só estaremos descansados quando isso de facto acontecer", explica.