Aos 91 anos, o empresário Rui Nabeiro ainda vai à fabrica da Delta todos os dias.
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Aos 91 anos, Rui Nabeiro confessa que toda a vida foi um homem de paixões, desde o futebol, à política, ao café, à empresa, aos colaboradores.... mas, a mais comovente, são mesmo as crianças.
Não passa sem o riso delas. Nem hoje, dia de assinalar os 15 anos do Centro Educativo da Delta, em Campo Maior, numa cerimónia com presença do ministro da Educação e Sampaio da Nóvoa, que vai apresentar o estudo realizado para a OCDE.
O futuro, a educação, a solidariedade e a responsabilidade social passaram a fazer parte do léxico quotidiano do empresário, que tem apenas a 4.ª classe e diz ter pena de não ter prosseguido os estudos. Talvez por isso, definiu como prioridade o ensino, quer cientifico universitário; quer a nível de Investigação e Desenvolvimento, em cooperação com vários estabelecimentos do ensino superior; quer a nível da aprendizagem dos 3 aos 12 nos diversos programas deste novo Centro Educativo criado há 15 anos e batizado com o nome da mulher - Alice Nabeiro.
Numa visita à fábrica da Delta em Campo Maior, avivou a memória com a TSF e falou dos tempos em que começou a ajudar a família aos 12 anos de idade, primeiro na mercearia da mãe, depois na torrefação do tio Joaquim e dos riscos das idas a Espanha, nos tempos do Franquismo, para ajudar a alimentar os cinco irmãos. Em especial, depois do pai morrer, quando tinha 19 anos.
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O empresário, militante socialista, ainda se lembra do começo na pobreza e das dificuldades do início de um negócio que hoje agrega mais de 22 empresas, três mil colaboradores e mais de 100 toneladas de café torradas por dia e aconselha os jovens a serem empreendedores, mas com persistência e esperança.
O seu quotidiano, quase secular, começa logo pela manhã com uma ida da casa, onde vive há mais de 40 anos, sentado no Lexus que o transporta há 16, até à fábrica a cinco quilómetros de Campo Maior, onde acompanha a produção, os colaboradores e até as cotações diárias do café e ainda tem tempo de ver a correspondência diária e responder a constantes pedidos de auxílio, vindos de qualquer parte do país.
Foi moço de recados, em tempos antigos em que a sobrevivência dependia do contrabando, lembra a reforma curta que o levou a apostar no negócio familiar da torrefação do café e que hoje o torna num dos homens mais ricos do país.
O patriarca do negócio de família - que reúne filhos, netos e bisnetos - já presente em cinco continentes e mais de 35 países, fala da amizade, como uma conquista maior e de um negócio que chegou a conquistar uma faturação na ordem dos 400 milhões em 2019. Depois, veio a pandemia, mas diz que a audácia não se sobrepôs à preocupação com as quebras, apesar de não terem recorrido ao layoff.
Gosta de recuar no tempo, para lembrar que passou por vários conflitos e regimes e falar da invasão da Rússia na Ucrânia, sem perder a esperança, apesar da preocupação com a falta de entendimento entre os Homens.
Comendador por grau atribuído a 9 de junho de 1995, por Mário Soares e reforçado a 5 de janeiro de 2006, com a Ordem do Infante atribuída por Jorge Sampaio já recebeu também o título de Doutoramento Honoris Causa, continua a sonhar em bem fazer aos outros.
Quando questionado sobre a próxima etapa da vida, afirma ser um sonhador e com muitos sonhos, que vão para lá do império do café que construiu na zona raiana.
"Não tenho medo do futuro. Um homem nunca morre." Palavras de Manuel Rui Azinhais Nabeiro. Nascido em Campo Maior a 28 de março de 1931.