"Ruim é um comandante que abandona o navio." Manuel faz a vida normal na vila de Velas
Nascido e criado na ilha, Manuel não está "com muito medo".
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Manuel da Praia é seguro nas palavras. Sem medo, faz a vida normal pelas ruas da vila de Velas. É dos poucos que ainda não fizeram as malas e decidiu ir abrigar-se num local mais protegido da instabilidade que a beleza natural dos Açores mostra ter. Manuel nasceu e cresceu nestas ruas. Foi por aqui que se fez homem, trabalhou e guardou as memórias que partilha quando se cruza com a TSF.
"Dizem que o gato tem medo da água quente, mas eu não estou com muito medo. Não estou", revela Manuel.
O tempo tem estado negro e permanentemente a chuviscar ao longo da semana. Por isso, a conversa com este são-jorgense de 73 anos só é possível em condições mais recatadas. Abrigamo-nos no café mais próximo. De conversa rápida e resposta na ponta da língua, Manuel mostra que há pouco que o faça mudar de ideias. Marcelo Rebelo de Sousa é esperado mais logo na ilha de São Jorge. Manuel da Praia quer aproveitar para falar com o Presidente da República e deixar um recado.
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"Ruim é um comandante que abandona o navio. Um comandante que abandona o navio é um cobarde. E eu não. Estou aqui para o que for preciso", garante.
Noutros tempos, já outros chefes de estado passaram pela ilha. Manuel recorda-se até de uma visita de Américo Tomás. Mais recentemente, mas ainda no século passado, era Mário Soares ainda Presidente da República, e Manuel conseguiu vê-lo e cumprimentá-lo. Na altura, tocava na Banda Filarmónica e, por breves instantes, parou o seu ofício musical para ir saudar pessoalmente o então chefe de estado. Este domingo espera poder voltar a fazê-lo. Até porque, se não o obrigarem, não vai sair da sua casa. "Ruim é um comandante que abandona o navio", diz Manuel da Cruz.