Sai Jerónimo, entra Raimundo. E agora, PCP? Dirigentes comunistas traçam rumo a seguir pelo partido
Ao fim de dois dias de conferência nacional, o PCP apresenta-se ao país com um novo líder e com um projeto político para "responder às novas exigências".
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Com o fim de uma era, de 18 anos de Jerónimo de Sousa à frente do partido, e com um novo secretário-geral a segurar as rédeas, que direção toma agora o PCP?
Bernardino Soares, antigo líder parlamentar comunista, garante que a mudança de secretário-geral não significa uma mudança no caminho do Partido Comunista Português.
O dirigente reconhece que Jerónimo é uma figura que foi além do próprio partido, mas espera que Paulo Raimundo siga os mesmos passos.
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"Tivemos 18 anos com um secretário-geral com quem muitas pessoas se identificavam, muito para além das fronteiras do PCP - ele trouxe para a vida política essa mais-valia, de haver a identificação das pessoas com um protagonista da vida política. Eu acho que o Paulo Raimundo não vai ser diferente", declara à TSF.
Outro antigo líder da bancada do PCP, João Oliveira, defende que agora é o próprio povo quem vai ditar o caminho que o partido seguirá.
"No momento em que há uma maioria absoluta do PS, que aponta um caminho de agravamento das desigualdades e das injustiças, eu diria que aqueles que são atingidos por esta política, naturalmente, sentir-se-ão indignados e irão lutar por uma política que verdadeiramente responda às suas necessidades", afirma João Oliveira.
"O nosso papel é precisamente estar ao lado desses que são atingidos e contribuir para que o caminho para uma política alternativa possa ser encontrado com mais facilidade", refere.
Jorge Pires, da comissão política do comité central do PCP, admite que o período é difícil, mas garante que os comunistas vão aparecer, quer no Parlamento, quer nas ruas.
"Naturalmente que o momento exige mais do partido, nesta fase, e é a isso que vamos procurar dar resposta, com as nossas propostas no plano institucional, na Assembleia da República (...), e também com o nosso trabalho político, o nosso trabalho de massas, virado para a rua, para ir ao contacto dos trabalhadores, para ir ao contacto das populações", assegura.
Para Bernardino Soares, no entanto, o partido tem agora de concentrar-se em aumentar a base de apoiantes.
"É um reforço que se tem de fazer com mais militantes, com militantes mais organizados, mais virados para a vida e para as pessoas, a intervir sobre as coisas concretas, sobre os problemas do dia a dia", nota.
Já Vladimiro Vale, da comissão política do PCP, defende que o poder do partido está além daquilo que conseguir em termos de resultados eleitorais.
"A base eleitoral é sempre uma expressão da força que o PCP tem, no entanto, nós dizemos, há muito tempo - e é um facto -, que a expressão social do PCP sempre foi superior à expressão eleitoral. E isso nota-se", assegura.
Porque "o segredo do PCP", de acordo com Vladimiro Vale, sempre foi estar junto das pessoas.
"Sempre que o PCP atravessou períodos difíceis, foi junto do povo que conseguiu as forças necessárias para superá-los", repara o dirigente comunista. "No fundo, é essa a receita - que estamos a afinar com esta conferência nacional."