"Será muito triste que o Governo socialista, depois de pôr tanto dinheiro no SNS, não o consiga recuperar"
As negociações entre os médicos e o Governo subiram a debate n'O Princípio da Incerteza. Alexandra Leitão defende que seria "muito triste" que um Governo com excedente orçamental "não consiga recuperar" o SNS. Lobo Xavier rejeita que haja pressão sobre os privados e Pacheco Pereira diz que os médicos estão a revelar uma postura corporativa neste processo.
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Os sindicatos dos médicos e o Ministério da Saúde voltam a reunir-se na quarta-feira. No programa da TSF e da CNN Portugal, o Princípio da Incerteza, a deputada socialista e antiga ministra Alexandra Leitão sublinhou que um Governo socialista que apresenta excedentes orçamentais não pode deixar cair o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"É preciso haver uma negociação, é preciso encontrar soluções, mas é preciso que essa negociação seja uma negociação aberta e uma negociação em que se procure um resultado, porque de outra forma será muito triste que o Governo socialista seja aquele que, depois de pôr tanto dinheiro no SNS, não o consiga recuperar", defende.
Com a expectativa de que "a próxima negociação seja a última" e que haja "um bom acordo", Alexandra Leitão considera que o Governo deve gastar uma parte do excedente para atender as reivindicações. "Quem diz dos médicos, diz de outras áreas da administração pública que estão a perder poder de compra há muitos anos", refere.
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António Lobo Xavier e José Pacheco Pereira divergem sobre o efeito da pressão dos privados sobre a gestão dos recursos humanos do SNS. Lobo Xavier rejeita essa pressão.
"O problema é de quem deixou que o agravamento das condições dos médicos chegasse a este ponto. Só há um rosto: o do primeiro-ministro, o do Governo e dos sucessivos ministros da Saúde. Os privados não tem nada que ver com isto. Se não houvesse privados, as pessoas não tinham como tratar problemas básicos de saúde. O problema é do setor público e é um problema gravíssimo social e de igualdade na sociedade portuguesa, que não foi tratado a tempo e horas", argumenta.
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Já o historiador José Pacheco Pereira considera que os médicos estão a revelar uma postura corporativa neste processo.
"Os médicos, por exemplo, têm mais poder do que os trabalhadores comuns e, portanto, têm também comportamentos que são corporativos. Aliás, já não é o primeiro conflito desta natureza, houve um com Leonor Beleza aqui há uns anos. Sem pôr em causa a legitimidade das reivindicações salariais, que acho que tem sentido, não me venham com um discurso bonito para legitimar, no fundo, o que é uma luta salarial normal, como travam os maquinistas da CP e como travaram os camionistas de matérias pesadas", afirma.
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