SIM admite que participação de António Costa pode "desbloquear" negociações na Saúde
Jorge Roque da Cunha sublinha, em declarações à TSF, que "um primeiro-ministro é sempre um primeiro-ministro" e defende, por isso, que António Costa teria poder para acabar com impasse na Saúde.
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O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) admitiu esta segunda-feira que o envolvimento direto do primeiro-ministro, António Costa, podia "desbloquear" as negociações na saúde, apontando, contudo, que o impasse também poderia ser resolvido se o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, tivesse mais poderes.
"É evidente que, se o senhor primeiro-ministro participasse no processo negocial, seria possível, provavelmente, desbloquear algumas questões que não estarão nas mãos do senhor doutor Manuel Pizarro", defende Jorge Roque da Cunha, em declarações à TSF.
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Jorge Roque da Cunha sublinha que "um primeiro-ministro é sempre um primeiro-ministro" e, por isso, reconhece que as negociações que têm estado a decorrer entre os sindicatos dos médicos e o Ministério da Saúde poderiam conhecer um fim com a intermediação do chefe do Executivo.
"O primeiro-ministro é sempre o primeiro-ministro e, nomeadamente, em relação àquilo que seria a recuperação do poder de compra dos médicos, que foi perdido na última década, com certeza que o senhor primeiro-ministro, que é o primeiro responsável do Governo, mas se fossem dados esses poderes ao doutor Pizarro, essa situação podia ser ultrapassada", considera.
O secretário-geral do SIM lamenta, ainda assim, que António Costa utilize o argumento do aumento em 73% do Orçamento do Estado, desde 2012, quando o poder de compra dos médicos tem diminuído, uma atitude que Jorge Roque da Cunha diz dar a impressão de que o primeiro-ministro "chegou agora ao poder".
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"Quando afirma, por exemplo, que o Orçamento de Estado, desde 2012, aumentou 73% e, ao mesmo tempo, os salários dos médicos, durante esse período, aumentaram 10,2% - para além da carga fiscal, uma inflação acumulada de cerca de 20% -, parece-nos que, se for para criar condições para que a proposta que está em cima da mesa - e tem estado sempre em cima da mesa - do pagamento de 17,45 euros/hora, em termos brutos, em vez dos 16,52 que hoje os médicos em 40 horas auferem, ou mesmo estar presente, reconhecendo que o OE, aprovado em termos de investimento, não tem sido executado na sua globalidade, devo dizer que seria uma das soluções", explica.
Jorge Roque da Cunha comentava esta segunda-feira as declarações de João Soares, no seu espaço no programa da TSF Não Alinhados.
"Era caso para dizer entendam-se, porra." Foi este o apelo deixado esta segunda-feira por João Soares, que pediu ao primeiro-ministro, António Costa, que se envolva diretamente nas negociações com os sindicatos dos médicos.
"É mais do que tempo que os sindicatos e o Governo se entendam, porque, ainda por cima, partilham o mesmo ponto de vista: ambos querem que o SNS continue a funcionar e de uma forma capaz", pede o antigo ministro e autarca.
O Ministério da Saúde e os sindicatos médicos retomaram este sábado as negociações na tentativa de chegar a um acordo sobre as questões salariais, após 18 meses de conversações que levaram a greves e protestos dos médicos. Na próxima quarta-feira voltam a sentar-se à mesa.
"O Governo tem feito um diálogo, que é um diálogo de boa-fé, com uma evolução assinalável das propostas e nós continuamos a trabalhar para uma aproximação de posições", defendeu Manuel Pizarro.
Quanto à reivindicação do aumento salarial de 30%, Manuel Pizarro afirmou que foram apresentadas várias propostas de flexibilidade que "ultrapassam muito esse valor".
O SIM afirma que mantém "a sua postura de querer chegar a um entendimento que permita pacificar o SNS e a bem dos doentes, mas que não poderá ser a qualquer custo e eternamente à custa dos médicos".
Também a Fnam diz estar disponível para assinar "um acordo que dignifique os médicos e o SNS", com reposição do horário de trabalho de 35 horas, das 12 horas de serviço de urgência e atualização do salário base que reponha o poder de compra para os níveis anteriores à troika para todos os médicos.
Mais de 30 hospitais do país estão a enfrentar constrangimentos e encerramentos temporários de serviços devido à dificuldade das administrações completarem as escalas de médicos, na sequência de mais de 2500 médicos terem entregado escusas ao trabalho extraordinário, além das 150 horas anuais obrigatórias.
Esta crise já levou o diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, a admitir que este mês poderá ser dramático, caso o Governo e os sindicatos médicos não consigam chegar a um entendimento.