"Ainda há muitas incógnitas." Governo cancela reunião de quarta-feira com sindicatos dos médicos
Jorge Roque da Cunha confessa, em declarações à TSF, que gostava que o tema da saúde deixasse de ser utilizado "como arma de arremesso político".
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A reunião entre o Ministério da Saúde e os sindicatos médicos, prevista para quarta-feira, foi esta terça-feira cancelada a pedido do Governo, confirmou a TSF.
O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), João Roque da Cunha, que considera "natural" o pedido do Executivo, adianta que a reunião foi cancelada pelas 21h00.
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"Foi com alguma surpresa que verifiquei que essa informação não tinha sido dada à tarde, a altura que nos confirmaram a reunião, porque ainda há muitas incógnitas, mas desde já se sabe que o senhor primeiro-ministro pediu a sua demissão, vai haver Conselho de Estado, o senhor Presidente da República irá decidir", aponta, lamentando ainda que o processo negocial com os médicos se venha a "arrastar" há já 18 meses.
"É uma pena não se ter resolvido, nem ultrapassado nestes oito anos de governação do PS e a verdade é que todas as situações de perturbação e instabilidade irão acrescentar instabilidade ao já instável SNS", defende.
Este anúncio acontece mais cerca de três horas depois de o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, ter assegurado no Parlamento que as negociações com os sindicatos médicos iriam prosseguir, realçando que não tinha ainda perdido a esperança de chegar a um acordo.
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As declarações de Pizarro no Parlamento surgiram horas depois de o primeiro-ministro ter anunciado a demissão, após o Ministério Público revelar que é alvo de investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre os projetos de lítio e hidrogénio.
Para o líder do SIM, com a demissão do primeiro-ministro, o "ideal seria haver um pacto de regime dos grandes partidos nacionais onde fosse, naturalmente, com as diferenças de cada um, estabelecido um conjunto de situações que pudessem perdurar no tempo".
Jorge Roque da Cunha confessa, igualmente, que gostava que o tema da saúde deixasse de ser utilizado "como arma de arremesso político".
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"Qualquer que seja o Governo, nós estaremos disponíveis e com capacidade de fazer jus à nossa tradição de assinar acordos. Já assinamos 38 acordos. O processo irá ser atrasado e teremos de ver de que forma é que será ultrapassado", conclui, sublinhando que o diretor executivo do SNS terá um "papel muitíssimo ativo em todo este processo".
"Terá, de alguma maneira, numa situação de instabilidade política, os poderes que lhes foram confiados. Terão de ser devida e seriamente utilizados para tentar ultrapassar alguns dos problemas sérios que neste momento atravessamos no dia a dia. Estou a falar mais em termos organizativos, para ver se mitiga alguns dos seríssimos problemas, que não só no mês de dezembro, não só no próximo semestre, se afiguram", explica.
A última reunião, no sábado, entre o Ministério da Saúde e os sindicatos dos médicos terminou sem acordo e as negociações seriam retomadas na quarta-feira.