Helder Paiva tem uma empresa de transporte de doentes, mas assegura que não concorre a concursos públicos. "Os critérios não se adaptam à postura da minha empresa no mercado". Quer isto dizer que os hospitais escolhem quem cobra menos, "em vez de terem em conta a qualidade".
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A Luisa Todi Transportes, contactada pela TSF, recusou esta quarta-feira prestar qualquer esclarecimento sobre o contrato que tem com o Hospital de Loures, onde um doente morreu à espera de transferência para outra unidade. Quem conhece este universo conta que os hospitais contratam muitas vezes quem cobra menos, abaixo da tabela fixada pelo Estado.
Além das corporações de bombeiros, são dezenas, por todo o país, as empresas que fazem o transporte privado de doentes. Até têm uma associação.
Helder Paiva, presidente da Associação Portuguesa de Transportadores de Doentes, em declarações à TSF, explica que, em regra, os hospitais abrem concursos públicos e vão ao mercado contratar o que precisam.
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"Há contratos em regime de avença em que a empresa fornece as ambulâncias e o hospital é que gere; contratos para transporte inter-hospitalar, contratos só para ambulatório; há hospitais públicos que contratam lotes de serviços", explica o presidente da associação, que acrescenta que os cadernos de encargos definem as necessidades e um dos principais critérios de adjudicação, lamenta Helder Paiva, "é o preço".
Helder Paiva tem uma empresa de transporte de doentes, mas assegura que não concorre a concursos públicos. "Os critérios não se adaptam à postura da minha empresa no mercado". Quer isto dizer que os hospitais escolhem quem cobra menos, "em vez de terem em conta a qualidade, o currículo das empresas ou o historial no mercado".
A regra do preço mais baixo prevalece apesar da atualização periódica da tabela do Ministério da Saúde (a última há um mês) para o transporte de doentes. As associações de bombeiros são as que mais se queixam dos preços baixos oferecidos pelo Estado, mas a tabela oficial fixa preços máximos, não impede que se cobre menos pelo mesmo serviço.
Em casos como o que terá ocorrido no Hospital de Loures, Helder Paiva não arrisca e afirma que tudo depende do critério clínico e do tipo de contrato entre o hospital e a empresa contratada para transportar os doentes.
"Há hospitais que contratam todo o transporte de todo o tipo de doentes, outros só alguns". O que é comum é o sistema integrado de emergência médica.
"Aí, a regra é que quando se trata de um doente emergente (emergência é mais grave do que urgência) o médico que faz essa avaliação no hospital contacta o médico do CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgente] para que a transferência se faça com ambulância do INEM", remata.