
O presidente do Chega, André Ventura
Manuel de Almeida/Lusa (arquivo)
Na abertura das jornadas parlamentares do Chega, André Ventura defendeu, contudo, que Marcelo é o último ponto de equilíbrio em Portugal e que há que evitar abrir agora uma crise presidencial.
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O Chega admite avançar com uma comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas tratadas no Hospital Santa Maria. André Ventura dedicou, esta tarde, a abertura das Jornadas Parlamentares do Chega, em Matosinhos, à intervenção do Presidente da República e do Governo no caso. O líder do Chega afirma, no entanto, que não é o momento para juntar uma crise presidencial à situação que o país já vive.
André Ventura ressalva que não é "advogado de defesa" de Marcelo Rebelo de Sousa, mas pede prudência a quem quer tirar consequências da alegada ação do Presidente da República no caso do tratamento das gémeas luso-brasileiras.
"O país vive, neste momento, uma crise no Governo da República, com eleições daqui a três meses, temos eleições na Região Autónoma dos Açores daqui a dois meses... Aqueles que querem pôr, em cima disto, uma crise sobre a Presidência da República é perceberem que o país entra em completo estado de anemia política", alerta o presidente do Chega.
"Neste momento, Marcelo Rebelo de Sousa é o único ponto de equilíbrio no sistema democrático que temos", declara André Ventura. "Se Marcelo Rebelo de Sousa entrar, também ele, numa espiral de perda de autoridade política, entramos num total descontrolo."
"Talvez as pessoas estivessem à espera que eu disse que [o Presidente da República] tem de ir já embora, que tem de ir para rua", constata o líder do Chega, reconhecendo que a postura prudente não lhe é característica, mas notando que haverá tempo para que Marcelo Rebelo de Sousa seja "responsabilizado".
Ainda assim, Ventura admite não ter ficado esclarecido com as explicações dadas por Marcelo Rebelo de Sousa, esta segunda-feira. "Continua sem se compreender muito bem se o filho, Nuno Rebelo de Sousa, tinha ou não exercido alguma influência junto do hospital para que o tratamento acontecesse. Também continua sem se perceber - mas, para isso, temos de aguardar pelo resultado da auditoria -porque é que alguns documentos desapareceram."
E embora fale em esperar pela Justiça, o líder do Chega sublinha que há também que apurar responsabilidades políticas. "O Presidente da República, sozinho, não poderia ter feito isto", atira, referindo-se à alegada discriminação positiva das gémeas tratadas no Hospital Santa Maria. "Tem de envolver o Governo: ou António Costa, ou o ex-secretário de Estado Lacerda Sales, ou a antiga ministra da Saúde Marta Temido. Não foi, certamente, o Presidente da República que ligou para o conselho de administração do Santa Maria ou que ligou para os médicos que iam tratar estas crianças."
É por isso que, defende o Chega, Marta Temido e Lacerda Sales têm de dar explicações no Parlamento. Ventura avança, porém, com outra ideia, em último recurso. "Casos estes esclarecimentos não sejam dados, o Parlamento não terá outra opção senão abrir uma comissão parlamentar de inquérito", declara.
O presidente do Chega frisa a dimensão que o caso assume, numa altura em que muitos portugueses sentem dificuldades de acesso ao Serviço Nacional de Saúde. "Estarem salvas duas crianças é fabuloso. Ter sido Portugal a fazê-lo é fabuloso. Haver um tratamento discriminatório é muito mau."
"Não é positivo que haja pessoas que, pela sua condição económica ou política, ou pela proximidade com o Presidente ou com o filho do Presidente, tenham acesso a estes tratamentos quando tantos portugueses não têm", acrescentou André Ventura que, nestas jornadas parlamentares do Chega, elege o combate à corrupção como o grande desígnio nacional.