Marcelo tem "responsabilidade política". Explicações de PR no caso das gémeas "não são suficientes"
As declarações do chefe de Estado estiveram em debate no Fórum TSF. João Paulo Batalha que Marcelo deu um "tratamento especial" a este caso. Já Teresa Violante, da Associação Transparência e Integridade, pede mais esclarecimentos a todos os envolvidos.
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João Paulo Batalha, vice-presidente da Associação Frente Cívica, ainda não ficou completamente esclarecido com as explicações que Marcelo Rebelo de Sousa deu, na segunda-feira, sobre o caso das gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria. No Fórum TSF, João Paulo Batalha considerou que o Presidente da República deu um tratamento especial a este caso.
"O tratamento especial é o próprio despacho. Isto não é um caso como os outros, porque a comunicação para a Presidência vem de cima, não vem para a Casa Civil através dos meios normais, vai diretamente para o Presidente. Portanto. A partir do momento em que Marcelo Rebelo de Sousa, em vez de ignorar esse e-mail e explicar ao seu filho que a família do Presidente não tem nenhum assunto a tratar com a Presidência da República e que aquele e-mail não vai ter resposta, reencaminha o e-mail para dentro da Casa Civil e põe a sua assessora a contactar diretamente o hospital de Santa Maria, que é uma coisa que também não é comum a Presidência fazer, permitiu que no Hospital de Santa Maria se soubesse que o Presidente está interessado neste caso", afirmou o vice-presidente da Associação Frente Cívica.
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João Paulo Batalha acusou o Presidente da República de ter uma responsabilidade política neste caso.
"As explicações do Presidente da República não são suficientes, mas são bem-vindas, porque mostraram já de uma forma irremediável uma responsabilidade direta que o Presidente teve em encaminhar um pedido ilegítimo, que veio do filho do Presidente e não dos pais ou familiares das crianças", explicou.
"Porque é que é o filho do Presidente a fazer este contacto e não as pessoas diretamente interessadas? Obviamente, porque tem uma facilidade de acesso direto e permitiu que se criasse a impressão no Hospital de Santa Maria de que o Presidente tinha um interesse naquele caso concreto. Mesmo que o Presidente possa não ter tido uma intervenção direta junto do hospital ou junto do Governo para dizer "resolvam o caso destas duas crianças", permitiu que se criasse essa perceção e, eventualmente, essa perceção foi suficiente para se atropelarem regras e procedimentos internos do hospital, eventualmente mesmo leis. O Presidente da República ontem não a reconheceu, mas na verdade confessou-a, a responsabilidade política de ter permitido, essencialmente, um abuso de informalidade", defendeu.
Ouvida também no Fórum TSF, Teresa Violante, da direção da Transparência e Integridade, afirmou que Marcelo Rebelo de Sousa fez bem em prestar esclarecimentos. O chefe de Estado esclareceu, na segunda-feira, que o filho lhe deu conhecimento do caso num e-mail em 2019 e que seguiu os procedimentos normais, encaminhando o processo para o Governo.
Teresa Violante defendeu a atitude do Presidente, mas considerou que não basta.
"O Presidente da República ontem [segunda-feira] prestou esclarecimentos que entendeu serem necessários dar agora. O Ministério Público fará a sua investigação e esperemos que rapidamente possa existir alguma pacificação e que possam ser feitas as clarificações que são ainda necessárias fazer", referiu.
Para Teresa Violante, há várias dúvidas ainda por responder: "Quem é que deu autorização? Nós sabemos que os médicos que estavam envolvidos no processo tinham um entendimento diferente, se foi uma autorização política, se foi o entendimento médico, porque é que aparentemente houve um tratamento tão célere? Se houve uma celeridade diferente neste processo ou não na parte médica. Eu creio que na parte da nacionalidade essa questão não é tão relevante, porque as crianças são filhas de mãe portuguesa e tinham menos de um ano e, portanto, parece-me relativamente fácil de perceber porque é que a nacionalidade foi concedida de forma tão rápida. Quem é que marcou consulta, a consulta foi marcada pelas vias normais? São estes pormenores que parecem burocráticos, mas que ajudam a perceber se houve ou não um tratamento de privilégio."
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Teresa Violante faz ainda um alerta: "Estamos num contexto alargado de grande fragilidade de praticamente todos os órgãos de soberania políticos. É necessário que as instituições e que todos os órgãos de soberania olhem para este contexto com um imenso sentido de responsabilidade, porque vamos ter eleições a breve trecho e este é um caldo muito propício para o favorecimento e o fortalecimento de forças antissistema, como bem sabemos."
Depois de o Presidente da República ter garantido que enviou toda a documentação sobre este caso para a Procuradoria-Geral da República, o Ministério da Saúde confirmou esta manhã à TSF que está "totalmente disponível" para colaborar com as autoridades e entregar toda a informação relevante no caso das gémeas luso-brasileiras.
A ministra da Saúde na altura deste caso, Marta Temido, garantiu numa entrevista ao Público e à Renascença, na semana passada, que depois de todos os documentos terem sido reencaminhados para o Governo, foi seguido o procedimento habitual nestas situações.
A TSF também já questionou o gabinete do primeiro-ministro e aguarda resposta.