"Costa não perdoou ao país" por falta de maioria absoluta. "A partir daí, procurou sempre um drama político"
Em entrevista à TSF, o conselheiro de Estado Francisco Louçã acusa António Costa de estar "zangado" com a falta de maioria absoluta e de desencadear uma crise política "artificial" para originar eleições antecipadas.
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Em dia de Conselho de Estado, convocado por Marcelo Rebelo de Sousa após o chumbo do Orçamento do Estado para 2022, o antigo líder do Bloco de Esquerda e também conselheiro de Estado Francisco Louçã aponta a responsabilidade da crise ao PS e ao Governo. Na perspetiva de Louçã, esta é até uma crise "artificial" que acontece porque António Costa ficou "zangado" com o eleitorado nas legislativas de 2019.
"Esta crise política tem um grau de artificialismo que foi empolado por razões políticas, porventura até por razões estratégicas até, para conduzir a estas eleições", defende o conselheiro de Estado, em entrevista à TSF. "Em certa medida, era o destino que estava marcado desde o fracasso da maioria absoluta desde o fracasso da maioria da maioria absoluta, em 2019", acrescenta.
O antigo líder do BE acusa o primeiro-ministro de procurar um "drama político" que pusesse fim à governação sem maioria. "O Governo queria maioria absoluta. Perdeu essa oportunidade nas eleições de outubro de 2019. Eu acho que António Costa não perdoou ao país, não perdoou aos eleitores. A partir daí, procurou sempre reconstituir as condições de um drama político como este que agora ocorreu."
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Perante a inevitabilidade já enunciada pelo chefe de Estado, Louçã conforma-se: "Teremos agora estas eleições, o Governo não quer outra coisa, o Presidente assim anunciou, e, portanto, as eleições são inevitáveis e são, aliás, um recurso institucional normal e possível. Não havendo outras portas, esta é a que fica e aquela que permite ao povo pronunciar-se."
O conselheiro de Estado acrescenta que, depois das últimas eleições, era preciso voltar a haver um acordo escrito entre os partidos da geringonça, e, nesse sentido, Cavaco Silva fez bem ao exigir esse documento. Já Marcelo Rebelo de Sousa não deveria ter confiado apenas em palavras e apertos de mão, sustenta.
"É sempre inconveniente ter uma situação de emergência como sejam os duodécimos." Mas os duodécimos, acredita Louçã, "poderiam ter sido evitados por uma negociação que fosse sólida e que fosse competente, como aconteceu nos quatro anos em que houve geringonça".
O bloquista defende, por isso, que Cavaco Silva tomou uma boa decisão ao condicionar essa aliança à celebração de um acordo escrito. "Fez muitíssimo bem, como Marcelo Rebelo de Sousa deveria ter feito. Mas há algum acordo que não seja escrito? É que, se o acordo é secreto, é para as pessoas não o conhecerem. Se o acordo é transparente, é escrito, é mostrado às pessoas. Até me espanta como é que pode haver quem em Portugal possa dizer que é vantajoso um acordo que é escondido das pessoas..."
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