Médicos dividem-se sobre as razões que motivam a falta de bebés. A Sociedade de Medicina da Reprodução alerta que há cada vez mais casais a desistir das consultas.
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A presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução alerta que por causa da crise existem casais que estão a desistir dos tratamentos de fertililidade.
No dia em que falamos sobre a falta de nascimentos em Portugal, a TSF procurou conhecer os desabafos ouvidos pelos médicos nos consultórios. As opiniões dividem-se, mas a falta de dinheiro é uma razão que parece ser apontada com cada vez mais frequência para adiar a gravidez.
A presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução está convencida que o adiar do primeiro filho devido à crise é um fenómeno generalizado. Ao consultório de Teresa Almeida Santos chegam sobretudo casais que à ultima hora desistem dos tratamentos de fertilidade.
«Parece-nos difícil entender que um casal que quer muito um filho de repente trava e já não quer agora. Quando tentamos saber porquê acabam por dizer que não querem porque não têm emprego ou não têm salário ou temem ficar sem trabalho», recorda a especialista em fertilidade.
As faltas às consultas marcadas ultrapassam os 20 por cento e Teresa Almeida Santos conta que os casais que ainda aparecem têm tendência para atrasar «e frequentemente assumem que não têm condições económicas para fazer os tratamentos necessarios».
Outro especialista, o presidente do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos, está convencido que as razões económicas não afectam da mesma forma os casais inférteis que fazem tudo para ter um filho. João Carvalho, admite, contudo, que recebe cada vez mais mulheres sem dificuldades em engravidar mas que por causa da crise adiam o primeiro filho: «Todos os dias ouço desabafos nessa matéria e verifico que nos casais novos existe uma vontade ou decisão de adiar por causa das condições económicas e sociais».
Opinião diferente tem Jorge Branco. O antigo director da maternidade Alfredo da Costa confirma que recebe menos grávidas, mas sublinha que essa tendência é antiga. «Este ano é pior e isso pode estar relacionado com a crise da dívida, mas isso sente-se há vários anos, ou seja, não é a razão principal caso contrário os outros anos tinham sido bons e não foram (foram muito maus)», afirma o especialista em ginecologia e obstetrícia.
Os médicos ouvidos pela TSF deixam o alerta e sublinham que o tempo passa mais rápido do que se pensa: muitos casais não se apercebem, mas adiar o primeiro filho significa que quando se decide pode ser tarde demais.