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Tragédias como naufrágio na Grécia "não vão parar" sem alterações nas políticas da UE

Yannis Kolesidis/EPA

À TSF, a gestora de projetos nas áreas da educação, cooperação internacional e responsabilidade social Fausta Pereira descreve os campos de refugiados como "quartos onde se arrumam as coisas que nós não queremos ver".

As políticas da União Europeia (UE) "não ajudam à integração" dos migrantes e, enquanto os problemas não forem solucionados, tragédias como o naufrágio de quarta-feira na Grécia vão voltar a acontecer, disse esta sexta-feira, à TSF, Fausta Pereira, gestora de projetos nas áreas da educação, cooperação internacional e responsabilidade social.

Um barco proveniente da Líbia com destino a Itália naufragou na costa grega na noite de terça-feira, provocando pelo menos 78 mortes. "Não me surpreende, infelizmente, e tenho a certeza que não vai parar enquanto os problemas na origem não forem solucionados", afirmou Fausta Pereira.

A gestora esteve quatro meses e meio em campos de refugiados na Grécia e descreve-os como "quartos onde se arrumam as coisas que nós não queremos ver". Fausta Pereira lembra-se de uma criança com nove anos "que só desenhava barcos com corpos à volta", manifestando a "experiência traumatizante" que passou.

Questionada sobre os perigos que estas viagens acarretam, a gestora sublinhou que "ficar também comporta riscos" e que as famílias têm "esperança".

"As pessoas fogem de conflitos, de perseguições, de situações onde já perderam membros da família. Tive relatos de jovens que já tinham perdido irmãos e outros familiares. Portanto, a situação que elas vivem não é uma situação ligeira, é um contexto de conflito", disse.

Para Fausta Pereira, é necessário pensar "de forma mais estratégica de integração destas pessoas" e ter em consideração a sua vontade de "reconstruir uma vida". A gestora acrescentou, ainda, que a UE cria, atualmente, "dificuldades de acesso" e, além disso, "uma vez na Europa, os migrantes tornam-se quase que invisíveis".

A diretora da ONG Habibi Work, Mimi Hapig, que trabalha com refugiados na Grécia, também não ficou surpreendida com a tragédia desta semana.

"Estes acidentes horríveis têm acontecido há muitos anos. O Mediterrâneo tem sido a fronteira marítima mais mortífera do mundo. Por isso, claro que foi um choque, mas infelizmente, não é uma coisa fora dos padrões dos últimos anos. O que piorou e nos preocupa cada vez mais são as rejeições ilegais. Ou seja, a agência que controla as fronteiras, a Frontex, empurra os barcos inseguros e as pessoas para águas internacionais, para as impedir de entrar nas águas gregas e chegar a terra e à Europa", disse em declarações à TSF.

Mimi Hapig espera que o naufrágio da passada quarta-feira sirva para "acordar consciências" e pede "a proteção de pessoas, não de fronteiras".

Nove homens de nacionalidade egípcia foram detidos no âmbito da investigação em curso sobre o naufrágio. De acordo com as autoridades gregas, são suspeitos de tráfico humano.

Desde quarta-feira, quando ocorreu o naufrágio da traineira, não houve mais resgates de sobreviventes ou recuperação de corpos. As autoridades gregas confirmaram que 104 pessoas foram salvas e 78 corpos de migrantes foram resgatados do Mar Mediterrâneo.

A maioria dos sobreviventes foi transferida esta sexta-feira para um abrigo de migrantes perto de Atenas, localizado no porto de Kalamata, onde familiares também se reuniram para procurar familiares.

Notícia atualizada às 14h53

TSF/Lusa