Opinião

Tempos estranhos

Estes são tempos estranhos, onde parece que a política de afasta das pessoas, crescendo uma espécie de sentimento de que tudo está mal e ninguém é responsável. A realidade é, felizmente, bem diferente.

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Valência, Espanha, este nosso mundo, soube esta semana que Carlos Mazón, o presidente da Comunidade Valenciana, apresentou a demissão. Finalmente. Assumiu, um ano depois, que cometeu erros na avaliação da tragédia que matou mais de 200 pessoas. O caso acabou nesta tragédia porque Mazón quis fazer uma avaliação política antes de lançar um óbvio alerta de emergência que poderia ter evitado a morte de muita gente. Ficou praticamente 12 horas sem contactar ninguém e só agiu quando pouco havia a fazer na prevenção e estava na hora de ajudar os milhares de vitimas.

Mazón é do Partido Popular, e a declaração de emergência passaria parte das responsabilidades na gestão da tragédia para o governo central, do PSEO, o que politicamente parecia não ser uma boa ideia porque daria protagonismo a Pedro Sanchez. O presidente do Governo de Valência, perante os alertas e o calculismo político, resolveu não agir, esperando que a tragédia não acontecesse. Não avisou as populações, não ativou a emergência, mesmo com a chuva a cair já em proporções bíblicas e o pior, mesmo o pior, aconteceu.

A seguir, a troca de acusações, o tentar empurrar a verdade para debaixo do tapete e um filme de muito má qualidade que teve um episódio marcante no dia do primeiro aniversário da tragédia. Mazón resolveu ir à homenagem às vítimas e acabou insultado com gritos de assassino e outros impropérios, num ambiente completamente hostil. A cena esteve em todas as televisões e na casa dos espanhóis que se indignaram. Mas, mesmo assim, voltou o calculismo político, com o líder do Partido Popular a recomendar a Mazón a demissão, que agora acontece, mas acautelando com a extrema-direita do VOX que o poder não voltaria para os socialistas na região, evitando eleições que muito provavelmente dariam uma pesada derrota ao PP.

Na novela, parece que, mesmo um ano depois, não se percebeu a dimensão da tragédia, a terrível destruição e o número vergonhoso de 200 mortos. A política age assim, sempre com o seu frio calculismo, deixando os cidadãos boquiabertos. Mas a democracia tem uma arma, que cada um pode sempre utilizar quando o mundo segue e age assim, o voto na hora certa, sem olhar a calculismos políticos, escolhendo quem efetivamente está na vida pública para resolver problemas.

O clima crispado no debate político deixa muitos populistas, que se apresentam sempre como os salvadores de qualquer pátria, aparentemente com alguma vantagem. O problema é a realidade quando chegam ao poder e medem sempre todas as decisões pela bitola que lhes permite continuar a governar, nem que isso custe umas centenas de vidas. Este caso de Espanha é apenas um. Se pensarmos um pouco, temos disto em demasiados locais, bem perto de nós. Infelizmente.

João Fernando Ramos