Sociedade

Castanha transmontana com menor calibre, mas melhor qualidade

A Castinha é considerada "o motor da economia agrícola" na região e é apelidada de 'ouro de Trás-os-Montes' DR

No próximo fim de semana, há duas feiras dedicadas ao produto: Em Carrazedo de Montenegro, concelho de Valpaços, a Castmonte, e em Vinhais a Rural Castanea, com a particularidade de ter o maior assador de castanhas do mundo, com capacidade para assar uma tonelada de castanhas em simultâneo

Em Trás-os-Montes, a região de Portugal onde se produz a maior quantidade de castanhas, a campanha, este ano, arrancou mais tarde do que é habitual. A seca prolongada e as temperaturas elevadas durante o verão, que se estenderam até final de outubro, atrasaram a maturação da castanha, que este ano apresenta um calibre mais pequeno, o que poderá afetar a quantidade. Ainda assim, a boa notícia é que a qualidade é superior à campanha de 2024.

A Região concentra a maior área de castanheiros em Portugal, responsável por cerca de 85% da produção nacional, o que representa, em média, cerca de 30 mil toneladas por ano.

É uma das culturas com mais impacto nos concelhos de Bragança e Vinhais, no distrito de Bragança, e no concelho de Valpaços, distrito de Vila Real, com destaque para a zona da Serra da Padrela onde se encontra a maior mancha contínua de castanheiros da Península Ibérica.

Este ano, a falta de chuva, entre junho e outubro, no nordeste transmontano prejudicou o crescimento das espécies de castanha mais precoce, que apresentam um calibre abaixo do normal, o que levou também ao atraso da campanha em cerca de duas semanas.

Pode não ser um ano excelente, em termos de quantidade, mas a qualidade será superior há dos anos anteriores, já que, há dois anos, os agricultores tiveram muita castanha, mas de baixa qualidade, devido a um fungo que provocou a podridão do fruto.

Este ano, "isso já não acontece", garante Nuno Diz, produtor de castanha de Parâmio, no coração do parque natural de Montesinho, no concelho de Bragança, onde são produzidos anualmente cerca de 15 mil toneladas. "Em termos de calibre não é um ano de excelência, mas em termos de qualidade, até foi um ano bom. A castanha está com pouco bicho", sublinha.

Este produtor não tem dúvida de que a castanha é o produto que mais rendimento dá aos agricultores desta região. "É de longe o único produto que nos traz realmente um valor acrescentado", afirma. "Em termos compensatórios é bastante satisfatório para o agricultor, é o motor da economia agrícola aqui na terra fria transmontana por isso é que lhe chamam 'o ouro de Trás-os-Montes' e tem algum fundamento", acrescenta.

Também no concelho de Vinhais, onde a produção média anual ronda as dez mil toneladas, a safra desta campanha deve ser "idêntica ou até ligeiramente melhor, porque o preço pago ao produtor subiu", adianta o presidente da Arbórea, Associação Agro Florestal da Terra Fria Transmontana. "Pelo menos uma má campanha não é de certeza", acredita Abel Pereira.

Mesmo que exista uma ligeira quebra, este dirigente associativo diz que será compensada com um valor mais elevado da compra ao produtor. "O preço está a rondar os dois euros, quando na campanha anterior era de 1,60, pelo que mesmo que a nossa campanha se fique pelas nove mil toneladas, nunca teremos uma perda, teremos sempre uma campanha média", refere.

Abel Pereira também destaca um aspeto muito positivo relativamente a 2024. "Não teremos problemas sanitários como tivemos em 2023, alguma coisa também em 2024, o que já é bom, o problema das podridões. Ou seja, não tendo o melhor calibre, ao nível de sanidade tem qualidade superior", assegura o presidente da Arbórea, revelando que, só no concelho de Vinhais, "há cerca de 2500 produtores de castanha que geram um volume de negócios a rondar os 15 milhões de euros".

Já no concelho de Valpaços, apesar de o problema da falta de chuva também prejudicar o calibre, as expetativas de produção são melhores. "Em termos de produção, vamos igualar os bons anos aqui na área da serra da Padrela, rondará os oito milhões de quilos", adianta Filipe Pereira, técnico da Associação Regional dos Agricultores das Terras de Montenegro, detentora da DOP Castanha da Padrela.

Nesta região transmontana, cerca de 80% das castanhas colhidas por estes agricultores é essencialmente absorvida pela exportação. Destina-se a mercados como Itália, França e Brasil.

No próximo fim de semana, há mesmo duas feiras dedicadas ao produto: Em Carrazedo de Montenegro, concelho de Valpaços, a Castmonte, e em Vinhais a Rural Castanea, com a particularidade de ter o maior assador de castanhas do mundo, com capacidade para assar uma tonelada de castanhas em simultâneo.

Fernando Pires