"Contratempo em Alvalade." O dia em que o Marinhense venceu o Sporting contado pelo filho do herói do jogo

TSF
Há mais de sessenta anos o Marinhense venceu o Sporting no antigo estádio José Alvalade. Miguel Carapinha recebeu em casa a TSF e contou a história, através de recortes de jornais, da exibição memorável do pai
"Onde é que os visitantes aprenderam a jogar assim?" A questão é colocada em destaque num jornal, que Miguel Carapinha tem recortado e colado num dossiê e que guarda, com carinho, no escritório do pai. O pai foi jogador do Marinhense durante muitos anos e foi protagonista da vitória mais simbólica da história do clube: 2-1 em Alvalade, o antigo estádio, frente ao Sporting, para a Taça de Portugal, no princípio do outono do ano de 1964.

Em vésperas da visita do clube da Marinha Grande ao novo Estádio José Alvalade, também em jogo a contar para a prova rainha do futebol português, a TSF encontra-se com o filho do herói de um duelo que tem mais de sessenta anos. Miguel Carapinha recorda com orgulho o percurso do pai, António Carapinha, que chegou a jogar no Benfica e foi campeão nacional de juniores: "Foi um grande jogador, mas ainda pode ter tido uma carreira com mais impacto."
Miguel mostra à TSF um dossiê com recortes de vários jornais desportivos onde está eternizado o momento mais glorioso da história do pai. São recortes que o pai foi guardando ao longo da carreira e que o filho guarda com carinho e também com um pouco de vaidade.
"O meu pai marcou o primeiro golo e sofreu o penálti que deu origem ao segundo golo. Foi o grande destaque desta vitória do Marinhense. E ainda foi o responsável pela expulsão do Lino [ jogador do Sporting]. Esteve a picá-lo durante o jogo inteiro."
Numa janela do artigo do jornal, estão evidenciados os momentos dos golos da partida: "1-0 (para o Sporting): Aos 46 minutos... o esférico foi aos pés de Ferreira Pinto que, da entrada da área, atirou um remate rasteiro e bem colocado; 1-1: 64 minutos... passe atrasado a Carapinha, pontapé por alto, a um ângulo, e Carvalho batido; 1-2: Três minutos depois, Lino rasteirou Carapinha junto à linha de cabeceira. Marciano transformou a respetiva grande penalidade." Por este curto retrato do jogo, percebe-se o relevo que o extremo António Carapinha teve no jogo.
"E atenção que na equipa do Sporting eram só internacionais", comenta Miguel, lendo um a um os nomes de alguns desses jogadores: "Carvalho, Pedro Gomes, Lino... no fim do jogo, o presidente do Sporting perguntava quem era o número onze. Queriam saber quem era o miúdo que tinha feito um jogão. Foi o jogo da vida do meu pai. Os jornalistas foram entrevistá-lo e ele disse que estava muito satisfeito por ter feito aquele jogo, ainda por mais por ser benfiquista (risos)."
Estamos agora no antigo escritório de António Carapinha. O filho, Miguel, abre uma vitrine e mostra uma significativa quantidade de troféus que preenchem duas prateleiras. Vários conquistados durante os tempos do Marinhense, mas alguns também alcançados em virtude da passagem pelo Benfica. Em cima da secretária de madeira, estão estendidas também diversas medalhas e há mais dossiês com documentos a registar factos antigos espalhados na mesa.
Viajamos agora da casa de Miguel Carapinha até à lavandaria que o mesmo gere também na Marinha Grande, perto do estádio do clube que representa a cidade. É lá que são lavados, todas as semanas, os equipamentos do Marinhense. Ou seja, Miguel prolonga a ligação que o pai tinha ao clube, mas, desta vez, de outra forma. Enquanto se ouve o barulho constante e infindo das máquinas de lavar a trabalhar, Miguel dá uma novidade à TSF: "Esta semana, os equipamentos não passaram por cá. No sábado, os jogadores vão estrear um equipamento novo."
Expetativa agora para perceber se neste duelo do século XXI entre Sporting e Marinhense, o clube da Marinha Grande vai voltar a vestir a camisola às riscas na horizontal pretas e brancas, que tanta sorte deu à equipa que em 1964 saiu com uma vitória memorável do Lumiar.