Gustavo Pereira, o atleta surdolímpico que está para o salto em altura "como Vasco da Gama para os Descobrimentos"
Portugal vai estar representado por 13 atletas nos Surdolímpicos, que decorrem em Tóquio, entre 15 e 26 de novembro. A TSF acompanhou toda a preparação e, durante esta semana, dá-lhe a conhecer aqueles que também são rostos de coragem, superação, ambição e crescimento no desporto. Gustavo Pereira é o atleta desta quinta-feira.
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Com apenas 18 anos, Gustavo Pereira prepara-se para os primeiros Surdolímpicos com a mesma determinação com que venceu o título mundial de sub-20 no salto em altura. Surdo severo, mas plenamente integrado no atletismo nacional, o jovem português está para a modalidade como "Vasco da Gama para os Descobrimentos" e chega ao grande palco internacional com vontade de começar uma longa história.
A TSF encontrou Gustavo Pereira no Centro de Alto Rendimento de Anadia, em Aveiro, onde aconteceu a reunião de atletas para os Jogos Surdolímpicos. O jovem atleta de 18 anos é surdo severo e, para facilitar a comunicação, fugimos do barulho e fomos para o exterior do complexo. Connosco estava também o treinador Fonseca Antunes, que começou por deixar claro: "O Gustavo Pereira está para o atletismo como o Vasco da Gama para os Descobrimentos!" Muito ambicioso? Até pode parecer, mas Gustavo, além de campeão mundial de sub-20, é daqueles nomes a quem espera um futuro promissor.
O atletismo apareceu na vida de Gustavo em tom de "brincadeira". "A minha professora de Educação Física, Diana Melo, viu que eu estava muito parado e sugeriu entrar para a equipa de atletismo da escola. Comecei assim e acabei por ganhar a minha primeira medalha de segundo lugar", contou-nos.
Ainda assim, sublinhou, competir na categoria surda é uma novidade. Durante muito tempo o atleta competiu com ouvintes e ainda hoje não gosta de "separar o conceito de surdos de atletas sem deficiência": "Vejo tudo como mais uma competição e gosto de enfrentar as coisas da mesma maneira. Não acredito que mude nada além da comunicação, às vezes por causa do barulho. Na maioria das vezes não há problema nenhum."
"O Gustavo nos últimos quatro campeonatos de Portugal, a prova máxima, fez a competição para a sua categoria surdolímpica com os atletas ditos "normais", que são todos os outros. Ele está perfeitamente integrado, ele próprio usufrui de um grupo de trabalho com excelentes executantes, onde ele é figura de pleno direito lá dentro e são todos amigos e têm uma força. É um grupo fantástico", acrescentou o treinador.
As diferenças podem ser residuais, mas é certo que quando a prova é igual para todos as potencialidades de cada também podem ser melhor aproveitadas. No ano passado, Gustavo Pereira participou no Campeonato do Mundo de Surdos, no qual conquistou a medalha de ouro no salto em altura.
"Não gosto de chamar nem desporto adaptado, nem desporto para deficientes. Designo-o como desporto sem limites. Porque é isso que nós também pretendemos é que indivíduos com handicaps, maiores ou menores, consigam competir e ser atletas de pleno direito e dimensão possível. Eu rasgo e rasguei o slogan que diz "todos diferentes, todos iguais", porque rapidamente vamos perceber que há um diferencial e que esse diferencial, por falta de apoio ou capacidade, leva-nos a desistir. Eu prefiro "todos diferentes, todos importantes"."
Independentemente dos resultados, tanto Gustavo e como o treinador partilham a consciência de que o desporto é, acima de tudo, um lugar de crescimento. A estreia nos Surdolímpicos é apenas o primeiro capítulo de um percurso que imaginam longo. "Ainda não tenho aquela esperança de que vou receber uma medalha, mas quero fazer o meu melhor", disse o jovem - que também partilha o tempo com Artes e Design -, com a certeza de quem sabe que o caminho se constrói passo a passo.
Fonseca Antunes reforçou essa ideia. Para ele, estes Jogos são um ponto de partida, não de chegada. "O Gustavo Pereira vai aos primeiros Surdolímpicos da sua carreira. Vamos perceber como estamos face à concorrência. Que estes Jogos de 2025 sejam a aprendizagem para os de 2029. Aí, sim, penso que já iremos com objetivos de chegar à medalha."
Gustavo Pereira é um dos 13 atletas portuguesas nos Jogos Surdolímpicos deste ano, que decorrem de 15 a 26 de novembro, em Tóquio, no Japão.
Este ano assinala-se o centenário desta competição multidesportiva, cuja primeira edição decorreu em 1924. Tóquio acolherá aproximadamente 3.000 atletas de cerca de 80 países, que competirão em 21 modalidades distribuídas por 17 arenas.
Portugal somará a sua nona participação em Jogos Surdolímpicos, competição na qual já conquistou 17 medalhas.
