Há combustível, um GPS próprio e medo de acidentes, sempre presentes na cabeça de quem anda na estrada. Para quem pedala o importante nem é bem o destino, mas a resposta a uma pergunta: "Porque é que nós estamos a andar?"
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São 1600,1 os quilómetros que desenham as dez etapas da Volta a Portugal. Nela correm 177 ciclistas distribuídos por 19 equipas que todos os dias partem sobre duas rodas para alimentar o sonho de que pelo menos um, ou a sua equipa, chegue ao final do dia 20 de agosto no topo de uma das tabelas classificativas: individual, pontos, montanha, juventude, equipas, combinado e melhor português.
Mas o que leva a que, seja na Volta a Portugal ou em qualquer outra prova do ciclismo mundial, estes atletas saiam todos os dias da cama para treinar ou enfrentar centenas de quilómetros, muitos deles a subir e a descer, por vezes até ao corpo não aguentar mais?
Pedro Almeida, psicólogo, explicou à TSF que, nestes casos, o combustível destes atletas tem um nome: "Propósito."
"Tem a ver com o sentido das coisas, com o significado das coisas." E esse combustível é o que faz com que, "apesar das dores, apesar do momento que está a viver na prova e se calhar das quedas que já deu e das expectativas que se calhar não estão a ser cumpridas de acordo com aquilo de que estava à espera", um ciclista consiga "voltar a montar a bicicleta e ir outra vez para mais uma etapa".
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E se neste caso o propósito é o que faz pedalar os ciclistas, o caminho tem um outro: "Objetivos. É um bocadinho como o GPS, se fossemos um carro, os objetivos são como o GPS."
Ou seja, tivessem os ciclistas quatro rodas e o que interessa para chegar ao destino não são os objetivos, mas sim, reforçou o psicólogo, o propósito: "Não é para onde é que vamos e onde é que temos de chegar. É mesmo: porque é que nós estamos a andar?"
Só que nem tudo se resolve só com um propósito e objetivos para alcançar. Quem anda na estrada sujeita-se, ou mais, ou menos, a sofrer acidentes e os ciclistas não são exceção. Exemplos disso são as "quedas e o medo de acidentes mais coletivos".
Para compor esta caravana de um homem só sobram as "questões estratégicas". Nelas entram dimensões como as da "paciência, resiliência, saber esperar e saber atacar só no momento certo". E nem sempre é fácil porque isso, "no meio de muitas horas de esforço, às vezes pode não ser tão bem gerido".
As tabelas classificativas desta quinta-feira, dia de sétima etapa que vai ligar Torre de Moncorvo a Montalegre, mostram quem tem tido mais combustível: o russo Artem Nych é líder da geral (camisola amarela), seguido de Delio Fernandez e Colin Stüssi.
Nos pontos é Daniel Babor quem lidera (camisola laranja), com Leangel Linarez e João Matias também no pódio.
O líder da montanha (camisola às bolinhas azuis) é César Fonte, com Luis Angel Mate e Delio Fernandez na perserguição.
O melhor jovem vai sendo Afonso Eulálio (camisola branca), com Cesar Guavita e Jaume Guardeño Roma nos segundo e terceiro lugares.
A melhor equipa é a espanhola Euskaltel-Euskadi, o líder da classificação combinada é Colin Stüssi e o melhor português é Henrique Casimiro.