Greve geral. Pedro Duarte liga sindicatos a candidaturas presidenciais e Alexandra Leitão avisa: "Até fica mal"

Álvaro Isidoro
No programa da TSF/CNN Portugal, O Princípio da Incerteza, José Pacheco Pereira afirma que os sindicatos "seriam cegos se não respondessem" ao pacote laboral proposto pelo Executivo, ao passo que Pedro Duarte classifica de "erro" a decisão de alguns sociais-democratas apoiarem a greve geral
A greve geral, marcada para 11 de dezembro, e a reforma laboral proposta pelo Governo continuam a ser tema de discussão. Desta vez, no programa da TSF/CNN Portugal, O Princípio da Incerteza, o social-democrata Pedro Duarte acusou as centrais sindicais de estarem associadas a candidaturas presidenciais, um contexto que acredita ter motivado a convocação do protesto. Já a socialista Alexandra Leitão considera que estas afirmações "ficam mal", enquanto que o historiador José Pacheco Pereira defende que os sindicatos "seriam cegos se não respondessem a esta situação".
No debate, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Pedro Duarte, começou por comentar o caso de sociais-democratas que apoiam a greve geral. E nomeia, desde logo, Lucinda Damaso, que é vice-presidente do PSD e presidente da UGT.
"O que acontece é que há alguns sindicalistas que são sociais-democratas, mas que têm vínculos, têm funções e cargos dentro da UGT de grande relevância. Nomeadamente o caso que deu é presidente da UGT, que seguiu a orientação da UGT - que eu considero um erro, embora muito respeitável", confessa.
Apesar de garantir que, com isto, não põe em causa a legitimidade de quem toma essas posições, o também social-democrata considera que a opção por apoiar a greve geral é um erro até do ponto de visa do sindicalismo porque "só vai contribuir para enfraquecer a posição dos trabalhadores".
"Quando se faz uma greve geral no início do processo negocial, o que é que vai acontecer? É que manifestamente o espaço de diálogo e de concertação vai ficar reduzido e, no atual contexto parlamentar, a decisão vai passar para o Parlamento e isso não vai ser positivo àquilo que é o ponto de vista dos sindicatos", argumenta.
Pedro Duarte acredita, então, que há sindicatos associados a candidaturas presidenciais e entende que é este contexto que está motivar a greve geral.
"Por força de estarem motivados [os sindicatos] por uma conduta político-partidária, neste caso, associando-se a candidaturas presidenciais, eventualmente, e querendo criar uma instabilidade pré-campanha eleitoral no país, no fim do dia, o que estão a fazer é prejudicar os trabalhadores com esta greve geral", insiste.
Já a socialista Alexandra Leitão contesta a ideia exposta por Pedro Duarte e sublinha que não é a toda a hora que os trabalhadores fazem uma greve geral. E assume ter a crença de que "alguma coisa aconteceu na negociação" entre o Ministério do Trabalho e a UGT para o país chegar a esta situação.
"Tivemos em 50 anos dez greves gerais, num sítio encontrei referido três, noutro sítio encontrei referido cinco greves gerais em 50 anos com as duas centrais sindicais. Portanto, não há um abuso da parte dos trabalhadores da utilização desta figura", assegura.
Indo mais longe, a socialista considera até que "até fica mal ao poder político chamar à luta dos trabalhadores uma tática partidária, por razões ainda por cima, que tem a ver com presidenciais".
"Apoucar os trabalhadores e apoucar os sindicatos, achar que uma greve é feita porque há umas presidenciais, francamente, olhando para esta reforma, olhando para este timing que cria imensos problemas e não resolve nenhum dos existentes, sou franca, acho que até fica mal. Acho mesmo que isso não é proporcionado e que não é correto", defende.
Quem partilha a mesma visão é o historiador Pacheco Pereira, que aponta que as centrais sindicais só podiam dar esta resposta à proposta de reforma laboral do Governo. Refere, ainda, que o que prejudica a produtividade da maioria das pequenas empresas é a "falta de preparação dos empresários".
"O essencial disto [do pacote laboral] é facilitar o despedimento. E é por isso que eu compreendo que centrais sindicais respondam. Facilitar o despedimento, tornar mais árduas as condições de trabalho, o aumento do prazo dos contratos a prazo, o outsourcing - quer dizer, despede-se para depois contratar uma outra empresa para fazer o trabalho que se considerou não necessário quando se faz o despedimento -, toda a facilitação do processo de despedimento, a coisa absurda que é o trabalhador ganha em tribunal, o tribunal diz-lhe 'o seu despedimento foi ilegal, não se cumpriram as regras' e o trabalhador não tem opção de voltar ao seu posto de trabalho. Depois, há também, obviamente, a questão da amamentação, que é uma questão própria e há também o enfraquecimento da negociação coletiva. Ou seja, os sindicatos seriam cegos se não respondessem a esta situação", sustenta.
