"Devemos estar preocupados. Aquecimento global é sinal de agravamento da mudança climática"
O investigador Filipe Duarte Santos explica, na TSF, que a atividade humana e os abusos do solo, a que se alia o início do fenómeno El Niño, vão fazer aumentar as temperaturas, mesmo depois de setembro ter batido o recorde de calor.
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Confirmado que está que este foi o mês de setembro mais quente de que há registo, com temperaturas que ficaram 0,5 graus Celsius (ºC) acima do anterior máximo de 2020 e 1,75 ºC para lá da média de setembro entre 1850 e 1900, antes das grandes emissões de gases com efeitos de estufa, o investigador Filipe Duarte Santos alerta na TSF para o que diz ser um "sinal de agravamento" das mudanças climáticas.
"Devemos estar preocupados porque o aquecimento da atmosfera, portanto o aquecimento global, ou seja, o aumento da temperatura média da atmosfera à superfície, é um sinal de agravamento desta mudança climática que tem origem em algumas atividades humanas", assinalou no dia em que o observatório europeu Copernicus anunciou que o mês passado foi o setembro mais quente de que há registo por margem "extraordinária".
Entre as atividades humanas que contribuem para este novo máximo, explicou Filipe Duarte Santos, está sobretudo a dependência mundial das atuais fontes primárias de energia, já que 82% desta provém ainda "dos combustíveis fósseis, ou seja, do carvão, do petróleo e do gás natural".
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"Ao fazer a combustão desses combustíveis fósseis emitem-se para a atmosfera grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2)", a que se juntam as emissões decorrentes do "abuso do solo à escala global, muito especialmente da desflorestação que ocorre sobretudo nas florestas tropicais húmidas na Amazónia e na bacia do Congo em África, mas também na Indonésia e nessa região do Sudeste da Ásia".
Mas há mais: os dados revelados pelo Copernicus revelaram também que a temperatura média global desde janeiro é a mais quente alguma vez registada nos primeiros nove meses de um ano, já que ficaram 1,4 ºC acima do clima nas décadas de 1850-1900. Assim, este aquecimento está muito próximo da meta definida no acordo de Paris, de limitar a 1,5 ºC o aumento das temperaturas.
A entrar em fase de El Niño
Outro fator que contribui para este aquecimento é o chamado El Niño, um fenómeno que faz com que "a temperatura superficial das águas próximas do equador, no Pacífico - especialmente as próximas da América do Sul -, sejam mais elevadas", assinalou o investigador, com "tendência a aquecer a atmosfera".
Em julho, a Organização das Nações Unidas (ONU) avisava que, neste ano de 2023, o El Niño teria intensidade "pelo menos moderada" e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) adiantava desde logo que seriam de esperar "novos recordes de temperatura".
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Filipe Duarte Santos avisa precisamente que "estamos a entrar numa fase de El Niño e isso tende a aumentar também a temperatura média global", que vai juntar-se, assim, ao "agravamento das causas das alterações climáticas" anteriores.
O fenómeno oposto, chamado La Niña, tende a provocar uma descida das temperaturas e esteve presente nos últimos três anos (2020-2023), pelo que é de esperar, com o seu fim, um aumento ainda mais acentuado da "temperatura média global".