"Envia sinais vitais a pais e médicos." Após perder o filho, engenheiro cria dispositivo para salvar crianças com cancro
O projeto cresceu e já está a ser testado no Hospital de Amor em Barretos, no Brasil. IPO e Fundação Champalimaud também mostraram interesse no dispositivo.
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Joel de Oliveira Junior perdeu o filho, de dois anos, para o cancro. Depois dessa perda, quis ajudar outros pais na mesma situação. Deixou o emprego que tinha como engenheiro numa empresa de telecomunicações e criou a Luckie Tech, que tem como objetivo diminuir a taxa de mortalidade das crianças em tratamento de cancro. A primeira criação é um dispositivo que monitoriza, em tempo real, o estado de saúde das crianças com a doença.
Quatro anos após a ideia, o projeto cresceu e já está a ser testado no Hospital de Amor em Barretos, no Brasil. Um dos hospitais do mundo que mais trata doentes com cancro.
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"Todos pensam que o dispositivo é a grande tecnologia, mas a grande tecnologia é todo o ecossistema que foi criado. Então criámos um dispositivo que é colado, com adesivo, à axila da criança e envia os sinais vitais dessa criança para os pais, através de uma aplicação, e para os médicos e enfermeiros. Há também um dashboard, uma tela lá no hospital, que mostra não só os sinais vitais mas também a localização de cada paciente. Por exemplo, se o João está em Cascais com febre e o tratamento dele é em Lisboa no IPO, todos são avisados e põem em prática ações para trazer o Joãozinho para o hospital o mais rápido possível, para reagir logo. Todas as pessoas em tratamento de cancro têm a imunidade muito baixa. Então às vezes as pessoas não morrem de cancro, morrem de uma gripe. Se demorar muito para uma febre ser tratada, isso pode ser fatal", explicou à TSF Joel de Oliveira.
A bateria do pequeno dispositivo dura 22 dias e demora apenas 45 minutos a carregar. É também à prova de água, o que faz com que as crianças raramente tenham de o tirar.
"É um dispositivo que fica bastante tempo na criança. A média de tratamento para as crianças com cancro aqui em Portugal é de três meses, durante bastante tempo. O mais interessante é que o custo de uma criança em tratamento de cancro é muito alto e entre 45 a 60% desse custo são internamentos em Unidades de Cuidados Intensivos. Esses cuidados intensivos são os quartos mais caros dentro dos hospitais. Quando trazemos essa pessoa que está em tratamento de cancro mais rapidamente para o hospital, evita que essa pessoa vá para os cuidados intensivos. Isso já diminui em muito os custos do tratamento e podemos atender muito mais pessoas e crianças", afirmou o fundador da Luckie Tech.
IPO e Fundação Champalimaud já mostraram interesse no dispositivo
Esta é já a terceira vez que este brasileiro atravessou o oceano para vir à Web Summit em Portugal. A cimeira tecnológica permitiu-lhe dar a conhecer o seu trabalho ao IPO do Porto e a Fundação Champalimaud também mostrou interessada na tecnologia.
"O IPO chamou-me e apresentámos lá o que temos feito. Assim que tivermos mais recursos poderemos fazer também uma prova de conceito lá no IPO, ou no Porto ou em Lisboa. A Fundação Champalimaud também quis conhecer o que fazemos. É um orgulho muito grande porque pensei que ia estar a ajudar o bairro onde moro e já estou a ir além fronteiras", admite.
Apesar de ter sido inicialmente pensado para crianças, no Hospital de Amor, no Brasil, o dispositivo da Luckie Tech está também a ser testado em adultos.
"Foquei-me nas crianças porque como apenas 2% dos cancros no mundo são em crianças, ninguém faz tecnologia dedicada a elas. Por isso é que fizemos algo que fosse confortável para as crianças. Se for para uma criança de três meses, será também para um adulto de 80 anos. Conseguimos que isso tivesse uma abrangência muito grande", acrescentou Joel de Oliveira.