Angola "não tem democracia", mas José Eduardo Agualusa antecipa "surpresas" nas próximas eleições

José Eduardo Agualusa/Instagram
À TSF, o escritor angolano José Eduardo Agualusa sustenta esta crença partindo da premissa de que o país africano "não tem sequer eleições para o poder local", mas ressalva acreditar que a democratização está para breve. "Provavelmente, a partir das próximas eleições já teremos surpresas", atira
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Cinquenta anos após a declaração da independência, Angola ainda "não é uma democracia". Quem o diz é o escritor angolano José Eduardo Agualusa que, apesar de defender que a unidade nacional tem sido reforçada ao longo das décadas, considera que falta agora democratizar o país.
No programa TSF Revista de Imprensa Comentada, José Eduardo Agualusa entende que o país africano carece de "bons governantes" e, sobretudo, de uma despartidarização de "todo o aparelho de Estado". No fundo, "falta democratizar o país", resume.
Apontando que a resolução destas questões seria um bom começo, o escritor sublinha que, neste momento, o país não tem "eleições para o poder local".
"O partido no poder vai sempre dizendo que sim, mas vai adiando porque não está interessado nisso. Não tendo sequer eleições para o poder local, como é que podemos falar em democracia?", questiona.
É com esta indagação que Agualusa sustenta o argumento de que Angola não é, ainda, uma democracia, lembrando também que as próprias eleições são contestadas.
"Não temos uma democracia. Podemos pensar que é um país a caminho de uma democracia - eu espero que sim, que estejamos a fazer uma transição, mas é uma transição demorada, convenhamos", adensa.
Ainda assim, o escritor confessa que consegue ver o país a dar este próximo passo num futuro próximo, afirmando mesmo que é "quase inevitável" que isso aconteça. As eleições gerais em 2027 são, na sua opinião, uma oportunidade para caminhar para esta mudança.
"Angola vai ter uma democracia, provavelmente nos próximos anos. E, provavelmente, a partir das próximas eleições já teremos surpresas. O próprio partido no poder já se deu conta de que não estará lá para sempre", assinala.
José Eduardo Agualusa entende ainda que os sucessivos Governos de Portugal têm adotado uma postura de "grande submissão relativamente aos interesses angolanos". Esta, completa, é uma situação que ainda não mudou. Apesar de as feridas do passado estarem sanadas, ainda não existe uma relação de igualdade entre os dois Estados.
"E nem falando só dos Governos: os partidos políticos portugueses no seu conjunto - tirando uma ou outra exceção - também. Então, isso não mudou. E, enquanto isso não mudar, fica difícil ter relações de igual para igual", acrescenta.
