Sem nacionalidade francesa, muitos emigrantes portugueses em França vivem o domingo eleitoral com expectativa, mas longe das urnas.
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Em dia de eleições em França, muitos portugueses a residir em paris seguem os rituais de domingo. Dizem não estar alheios à política francesa e portuguesa, mas lamentam por não poderem exprimir-se nas urnas para as presidenciais do país em que passaram a maior parte da vida.
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"Até gostava de poder votar", confessa Maria dos Prazeres. "Já estou aqui há quase 50 e tal anos, e já sou mais francesa do que portuguesa", ironiza esta emigrante que saiu de Braga "com 17 anos".
Mas sem a nacionalidade francesa, quem é imigrante em França não vota nas eleições para a escolha do chefe de Estado. "Há pouco tempo pedi, mas era muita papelada para preencher", afirma Maria dos Prazeres, que perante "muita complicação" acabou por se deixar demover, e não pedir a nacionalidade do país em que passou a maior parte da vida.
Aos 64 anos, David também nunca pediu a nacionalidade, e "agora também já não vale a pena", afirma o emigrante, que a menos de um ano da reforma já "conta os dias" para regressar a Arcos de Valdevez, Viana do Castelo, de onde partiu para França, há 33 anos.
Afirma que a política francesa não lhe passa ao lado, e até gostava de poder "exprimir-se" nas presidenciais deste domingo. "É aqui que trabalhamos, é aqui que vivemos e aqui que fazemos a nossa vida", aponta, referindo-se a uma aparente contradição.
No domingo das eleições cumprem-se outros rituais, como a ida à missa, na Igreja do Sagrado Coração de Gentilly. "Já aqui venho há 40 anos, é a nossa língua", afirma Maria dos Prazeres. É a igreja portuguesa.
"Tínhamos uma igreja em Paris onde íamos à missa todos os domingos, mas começou a tornar-se pequena e o cardeal [François] Marty, que era o bispo da diocese de Paris, cedeu-nos esta, que estava fechada", afirma o marido de Maria dos Prazeres, Casimiro.
"Há 40 anos que entrei para o Conselho Pastoral e ainda cá estou", afirma o emigrante de Pombal, orgulhoso do resultado que alcançaram na recuperação da igreja, com os donativos que têm recolhido. "Temos aqui toneladas de tinta, tudo feito por portugueses", afirma, acrescentando que tem assumido um papel ativo na comunidade.
Embora não possa votar para as presidenciais, diz que não falha com "as municipais, mas mais do que isso não", confessando que, "sim", acharia bem se pudesse votar para a presidência da República Francesa.
"Oui, gostaria de dar a minha opinião", afirma Maria dos Prazeres, acrescentando: "Devíamos poder votar."
De acordo com os dados do ministério dos Negócios Estrangeiros, a população de portugueses e lusodescendentes a residirem em França ronda 1,7 milhões de pessoas.