Alberto Núñez Feijóo fracassa: Congresso rejeita candidatura a presidente do Governo espanhol
O líder do PP saiu derrotado, com 172 votos a favor e 178 contra. Sexta-feira há nova votação.
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Sem surpresas, com 172 votos a favor e 178 contra, Alberto Núñez Feijóo viu o congresso dos deputados rejeitar a sua candidatura a primeiro-ministro. O líder do Partido Popular apresentava-se à investidura como vencedor das eleições do passado 23 de julho, mas sem os apoios necessários para conseguir chegar à liderança do Governo.
Além dos votos do PP, Feijóo contou apenas com os votos do partido de extrema-direita Vox, do União do Povo Navarro e da Coligação Canária. Insuficiente para a maioria absoluta que precisava na votação desta quarta-feira.
Foi precisamente o pacto com a extrema-direita que afastou Feijóo, desde o início, do cargo de primeiro-ministro.
"Para contar com o nosso apoio, teria de descontar primeiro os 33 votos do Vox, por isso o senhor nunca teve uma maioria", lembrou o líder do Partido Nacionalista Basco (PNV), Aitor Esteban.
A frase do líder basco refutava a premissa do discurso de Feijóo, que se apresentou no Congresso como um líder que teria a maioria para governar ao alcance da mão, mas que renunciava a essa maioria para "não ceder às pressões" dos independentistas.
"Tenho ao meu alcance os votos para ser investido primeiro-ministro, mas não aceito pagar o preço que me pedem para o ser", começou por dizer o líder do PP.
O "preço" refere-se à lei de amnistia que os socialistas estão a negociar com o Junts per Catalunya, partido cujo líder, o catalão Carles Puigdemont, está foragido em Waterloo. Os socialistas não falam abertamente da negociação, mas todo o discurso de Feijóo durante a sessão de investidura girou à volta desta lei.
"A amnistia é um instrumento adequado para superar o conflito catalão. Esse conflito não se vai superar de maneira definitiva se não contemplamos o direito a decidir do povo da Catalunha mediante um referendo. Com isto basta, não? Pois não. Não vou defender isso, tenho princípios, limites e palavra", disse Feijóo logo ao início do seu discurso.
Sánchez ignora Feijóo
Ciente de que não ia conseguir ser investido, Feijóo quis cimentar a sua condição de líder da oposição. Procurou o confronto com o atual primeiro-ministro, mas não o encontrou. Pedro Sánchez encaixou todas as críticas e, na hora de responder, ignorou Feijóo e deixou a tarefa nas mãos de Óscar Puente. O deputado socialista, ex-presidente da câmara de Valladolid, foi a arma socialista para desmontar a estratégia de Feijóo e o argumento de que é o vencedor das eleições quem deve governar.
"Anda o senhor há mais de dois meses a apelar à sua condição de cabeça de lista mais votado como argumento quase único para exigir a presidência do governo. A mim aconteceu-me o mesmo que ao senhor: fui o candidato mais votado nas últimas eleições municipais em Valladolid e ainda assim uma coligação formada pelo seu partido e o partido da extrema-direita espanhola Vox relegou-me à oposição", atirou o socialista.
A intervenção de Puente, num tom muito duro - "nem o senhor é presidente, nem o senhor é de fiar" -, indignou Feijóo que não escondeu o desagrado por Sánchez não lhe ter dado réplica.
"O senhor Sánchez pediu-me seis debates durante a campanha e agora não é capaz de fazer o segundo?", perguntou, perante a indiferença do líder socialista.
Aliança PP-Vox
Durante o debate ficou patente a aliança entre o PP e a extrema-direita do Vox. Feijóo agradeceu os 33 votos do Vox sem a exigência de entrar no Governo e disse no Congresso que "o único partido espanhol que merece um cordão sanitário é o Bildu" [coligação basca que integra o herdeiro do braço político da ETA].
Do lado da extrema-direita, Santiago Abascal, lembrou que "PP e Vox não são inimigos" e pediu ao líder dos populares que assuma a aliança "sem pudor".
A proximidade de PP e Vox foi outra das protagonistas da sessão e uma das razões para a falta de apoio à candidatura de Feijóo.
"O senhor não vai ser presidente porque a sua aliança com a extrema-direita o afasta do país real que diz representar", lembrou Marta Lois, porta-voz do Sumar.
O partido de Yolanda Díaz, que será parte do Governo de Sánchez se o socialista for investido, abordou de forma direta a lei de amnistia, para a defender.
"A amnistia não é para as elites políticas, mas sim para centenas de pessoas anónimas que se viram envolvidas num conflito político", começou por dizer Lois. "A amnistia é um passo mais depois dos indultos para avançar numa solução dialogada do conflito político com a Catalunha".
À saída do hemiciclo, com a derrota confirmada, Feijóo mostrou-se "satisfeito" porque a sessão "obrigou-nos a todos a assumir as nossas posições" e garantiu que "Espanha pode estar tranquila porque o PP vai continuar a trabalhar pela sua unidade".
O escrutínio repete-se sexta-feira, 48 horas depois da primeira votação, e Feijóo precisa apenas de maioria simples para ser investido. Se o resultado de hoje for ratificado, será a vez de Pedro Sánchez.