À porta de um banco onde os pensionistas fazem fila para receber o dinheiro. O enviado da TSF a Atenas, Artur Carvalho, conversou com um velho advogado que não esconde a revolta e a mágoa que o consomem. Yani confessa que se sente um tonto por ter confiado em quem não devia.
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Por estes dias na Grécia, os pensionistas estão seguramente entre os mais apreensivos com o que está acontecer e com o que resultará do referendo de domingo. O governo ordenou a abertura desde quarta feira de mil agências bancárias, para que eles possam levantar parte da reforma, mas isso não os sossega.
Yani sai do banco com um peso agravado. Nota-se-lhe na cara. Tem oitenta anos e receia que esta possa ter sido a derradeira reforma que vai receber.
É imperioso derrotar o não, diz Yani, de outro modo não haverá dinheiro para pagar tudo que a Grécia importa desde limões ao petróleo. E a culpa de o país estar onde está é sobretudo de Tsipras.
Os alemães também tem culpa, diz o pensionista, mas só por não terem pago à Grécia o que lhe devem desde a Segunda Guerra Mundial. No resto não lhes falta razão... este é um país que precisa de profundas reformas, de levar uma grande volta. Aponta com a bengala para o passeio e dá um exemplo: "eles tem razão, tem razão. Olhe para isto... estacionam os carros onde calha. Ninguém respeita a lei."
O velho homem ainda tem na mão a caderneta da conta bancária. Volta a olhar para ela e diz que se sente um idiota por ter pago durante quinze anos para um complemento de reforma a que não verá a cor.
O velho advogado segue o caminho dele, por entre carros mal estacionados. A bengala suporta-lhe o peso da idade e um desalento com que já não contava a esta altura da vida.