Português relata danos "imensos" nas autarquias francesas após várias noites de tumultos
Paulo Marques é autarca Aulnay-sous-Bois, a nordeste de Paris, e relata perdas que incluem autocarros e um centro cultural.
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Com mais uma noite em que 45 mil polícias e guardas nacionais nas ruas francesas para enfrentar os tumultos desencadeados pela morte do jovem Nahel pela frente, em França, os autarcas do país ainda não fizeram contas aos prejuízos sofridos nos territórios que administram.
Está marcado para esta terça-feira um encontro entre o Presidente francês Emmanuel Macron e 220 autarcas das localidades mais afetadas, entre elas Aulnay-sous-Bois, onde o português Paulo Marques desempenha funções camarárias.
O também presidente da Associação de Autarcas Portugueses em França explica, na TSF, que os danos na autarquia que ajuda a gerir "são imensos" e incluem "autocarros incendiados e um centro cultural".
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Os estragos aconteceram "em duas noites, basicamente" e na terceira já foi possível sentir "um decréscimo". A isso ajudaram, explica, a "mobilidade e a intervenção" do município "e de todas as forças no terreno" e o "facto de não se poder circular na cidade a partir das 21h00".
Os autarcas querem tentar perceber, junto do Presidente francês, que decisões vão ser tomadas para mitigar os danos, mas Paulo Marques sugere até que neste encontro "se abra novamente o livro das propostas solicitadas pelo Presidente da República a Jean Louis Borloo" em 2017, quando Macron pediu ao antigo ministro que traçasse um plano para reabilitar os subúrbios franceses.
"Nada foi feito após a apresentação dessas recomendações e nós achamos que temos de ver com pragmatismo cada situação. Cada autarquia, cada distrito, cada região tem a sua especificidade, não se pode englobar numa só iniciativa. São várias problemáticas. São vários os fatores, vão do ensino até à formação, vai até também aos problemas sociais da alimentação, com o aumento dos preços em França, tal como em todos os países da União Europeia", alerta o representante português.
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Paulo Marques espera sobretudo que se responda "rapidamente a esses anseios", que não são apenas dos autarcas, mas também "dos munícipes".
Esta segunda-feira, a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, anunciou que a prioridade é "assegurar o regresso à ordem republicana, o que implica manter o dispositivo de segurança para a noite que se aproxima" após receber os grupos políticos que integram as duas câmaras do parlamento francês.
Em paralelo, a autoridade dos transportes da região de Paris divulgou uma primeira estimativa dos danos provocados pelos protestos urbanos ocorridos nas últimas noites, admitindo "pelo menos 20 milhões de euros de prejuízos".
Neste balanço, é necessário incluir "os autocarros incendiados, um elétrico queimado, dois elétricos danificados e mobiliários urbanos destruídos" precisou à agência noticiosa AFP a autoridade regional Ile-de-France Mobilités (IDFM), confirmando uma informação do diário Le Parisien.
No total, 39 autocarros foram incendiados desde o início dos tumultos. Cada veículo do género está avaliado em 350.000 euros.
A IDFM recordou que na noite de hoje a circulação dos transportes volta a ser interrompida a partir das 21:00 (hora local), uma medida em vigor há vários dias.
Vários locais para a realização dos eventos desportivos, especialmente na Ile-de-France, estão no centro de bairros sensíveis, que têm registado uma tensão crescente após a morte do jovem de Nahel, de 17 anos, baleado na terça-feira passada por um polícia numa operação de trânsito.
Em cinco noites consecutivas de tumultos, até domingo de manhã, foram registados, entre outros atos de violência, cerca de 5.000 veículos incendiados, quase 1.000 edifícios destruídos total ou parcialmente, 250 ataques a esquadras de polícia e a mais de 700 membros das forças de segurança.
Registado por um vídeo amador que contradiz a história inicial contada pela polícia, o tiro à queima-roupa que um agente disparou contra o jovem em Nanterre (nos arredores de Paris), em 27 de junho, chocou o país, desencadeando uma onda de violência, que repercutiu muito além das fronteiras francesas.
Nas últimas noites, os distúrbios desencadeados pelo incidente de Nanterre levaram à detenção de mais de 3.200 pessoas em toda a França, afirmou o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, durante uma visita à cidade de Reims.
O agente da polícia suspeito da morte do jovem está acusado de homicídio e em prisão preventiva.