Reportagem TSF no Rio de Janeiro. Apoiantes de Lula temem pela eleição, mas até lá vão sambando
Na roda de samba da Glória ninguém é apolítico: toda a gente tinha um adereço relativo a Lula. Antes, bloco de Carnaval improvisado inundou Copacabana. Em comum? A festa e o medo.
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"Não é possível! Hoje em dia, a política esta impregnada no quotidiano de todo o mundo. Não tem como vir a uma festa popular e não falar de política." A frase é de Diógenes Moraes, que fez questão de estar presente na roda de samba do bairro da Glória, no Rio de Janeiro, não apenas para sambar e beber uns copos, mas para falar de política.
Diógenes faz parte de um pequeno grupo onde a conversa estava relacionada com a eleição do próximo domingo. De resto, quase todos os grupos, ora davam um pé no samba, ora um bitaite sobre Bolsonaro.
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E apesar de ser uma roda de samba, bem apinhada por sinal, bem podia ser um evento de campanha a favor de Lula. No peito, à tiracolo, na cabeça, nas mãos, estão frases e imagens alusivas ao ex que quer voltar a ser presidente. Se há certeza é de que a Glória ao domingo é terreno dele.
De adesivo colado no peito com a cara de Lula da Silva e os números dele para a votação, o famoso número 13, Isabel Santos está descontraída naquele ambiente, mas não deixa de manifestar algum receio.
"Este lugar específico é um lugar onde as pessoas se sentem seguras para vir. As pessoas que estão a fazer campanha ou a apoiar o Lula, hoje em dia não se sentem seguras para frequentar qualquer espaço. Do lado dos apoiantes do Bolsonaro, existe muita violência, existe o porte de arma, temos visto nas últimas semanas pessoas com casa ou carros alvejados com tiros porque têm a bandeira ou adesivo do Lula", nota Isabel.
A participante na roda de samba deste domingo sublinha que "há lugares específicos onde os apoiantes do Lula se sentem seguros para frequentar". "Provavelmente, quando formos embora vamos tirar o adesivo porque não sabemos o que vamos encontrar no metro", diz.
Mas o medo não é igual para todos, no entanto está lá. Não tanto durante aquilo que está a ser o caminho até à eleição, mas o dia seguinte. Natália Ferreira constata que é "uma mulher negra, periférica e lésbica" e que o "maior receio" é de ver a identidade reduzida. "Como é que fica a nossa sobrevivência, existência e pautas, se o candidato da extrema-direita ganhar?", questiona ao microfone da TSF.
No entanto, cada coisa a seu tempo porque, por agora, "Que tal um samba?" É assim que canta Chico Buarque e é assim que estas centenas de pessoas preferem estar, numa festa que é, ao mesmo tempo, uma espécie de catarse, como nota Isabel Santos.
Até porque a intolerância "está muito maior", como diz Cristiane Figueiredo, e as notícias mais recentes até vêm provar o extremismo. Olhe-se para o caso Roberto Jefferson com direito a várias manchetes no Brasil: ex-deputado federal, grande apoiante de Bolsonaro, perante a tentativa da polícia em prendê-lo, resistiu à ação policial, trocou tiros com as autoridades e ainda atirou granadas contra a polícia.
Este homem estava a cumprir pena de prisão domiciliária, mas face ao desrespeito pelas regras, a justiça decidiu avançar para a prisão preventiva. Jefferson é suspeito de chefiar uma organização criminosa que pretende atentar contra a democracia e os poderes Legislativo e Judiciário.
No entanto, se na roda de samba a mobilização foi mais ou menos espontânea com os "adereços" de Lula, mais cedo já havia uma outra coordenação: a marginal de Copacabana recebeu uma espécie de bloco de carnaval fora de época com o tema "Lula". Aí também gritos e frases de ordem e de propaganda impressas como, por exemplo, "Maconha é uma erva, droga é Bolsonaro", como se lia num saco de pano.
Aí, Gaúcho não parava de faturar, mas também de entreter. Questionado sobre o negócio do chope "fora Bolsonaro", o homem de barba longa que vende cerveja a quem passa lembra que tudo começou com a cerveja "fora Temer". "Depois virou o chope 'ele não, os filhos dele também não', depois virou o chope Lula Livre e agora #Lula2023".
Enquanto se perde no próprio microfone que traz para comunicar mais alto com a clientela, mostra também a t-shirt verde que traz vestida e que tem uma mensagem muito clara (além da mão de quatro dedos de Lula da Silva): "Que saudade do meu ex, ele voltou".
Acha que vai mesmo voltar? "Ele já voltou, meu amigo. Mesmo com 500 mil fake news, com 500 milhões que esse cara soltou para a emenda, ele já voltou, não tem essa. Eles estão desesperados", conclui o vendedor ambulante que durante bom pedaço da tarde servia generosas cervejas e improvisava canções com o alvo no atual presidente do Brasil.