Aterra esta terça-feira em Lisboa aquele que é considerado como o homem mais poderoso da China, desde Mao Zedong. Presidente a partir de 2013, tem já o pensamento politico inscrito na Constituição do país e pode ser chefe de Estado até morrer.
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Xi Jinping nasceu Príncipe há 65 anos. Era esta a forma como os chineses se referiam aos filhos dos que participaram na revolução de 1949. Apesar de o pai ser um dos fundadores do partido comunista - chegou mesmo a vice-primeiro-ministro -, a vida de Xi não foi fácil.
O destino da família mudou quando, em 1962, o pai deixou de estar nas boas graças de Mao, foi detido e exonerado por diversas vezes. Aos 15 anos, nas vésperas da Revolução Cultural, Xi foi enviado para o campo para se reeducar. Durante 7 anos trabalhou como agricultor, vivendo sozinho numa caverna transformada em casa. Desse período queixa-se sobretudo da solidão, mas também do trabalho pesado.
Apesar desta experiência e de ter criticado a Revolução Cultural, o atual chefe de Estado chinês pediu para aderir ao partido e foi aceite em 1974. Num documento revelado pela Wikileaks, um académico que conheceu Xi quando este era ainda um jovem diz que "ele escolheu sobreviver tornando-se mais vermelho do que os vermelhos."
Xi Jinping formou-se na Universidade de Tsinghua, como engenheiro químico e, a pouco e pouco, foi subindo na hierarquia do partido. Foi secretário local na província de Hebei, uns anos mais tarde foi transferido para a província de Fujian e esperou até 2007 para conseguir um cargo que lhe desse maior visibilidade.
Quando o secretário do partido comunista em Shanghai, segunda maior cidade do país, foi afastado devido a um escândalo de corrupção, Xi foi o sucessor. Seis meses depois já era membro do comité permanente do Politburo, composto pelos mais altos lideres do partido comunista. Em 2012, assumiu a liderança deste comité, e um ano depois chegava à chefia do Estado com o sonho de transformar a economia e modernizar o país.
Nos pouco mais de cinco anos que leva como Presidente, a China cimentou a influência no mundo. É o principal parceiro comercial da Europa e dos Estados Unidos e, a pouco e pouco, tornou-se importante no destino de dezenas de países através dos investimentos. Portugal é disso exemplo, com dinheiros chineses a entrarem na EDP, Rede Elétrica Nacional e TAP, para além dos milhões investidos em imobiliário.
Pelas regras estabelecidas na Constituição em 1982, o atual líder poderia exercer a presidência até 2023, mas este ano o Congresso do PC chinês aboliu essa norma, e Xi Jinping pode ser presidente até querer ou morrer. Apesar de a sua liderança estar marcada por inúmeros ataques às liberdades (censura na internet, prisão de dissidentes e defensores dos direitos humanos, envio de milhares de muçulmanos para campos de reeducação), foi esta alteração constitucional que fez soar as campainhas de alerta. Muitos sobreviventes da Revolução cultural confessaram temer que, com o poder absoluto, Xi Jinping pudesse lançar uma campanha repressiva com proporções trágicas.
A anterior legislação, aprovada por Deng Xiaoping, seis anos depois da morte de Mao, tinha por objetivo impedir que um outro dirigente pudesse destruir milhões de vidas sem oposição. Deng até manifestou a esperança de que, até 2030, a China pudesse tornar-se numa democracia com um aparelho judiciário independente. Isso dificilmente acontecerá nos próximos anos.
Desde que assumiu o poder, Xi elegeu o combate à corrupção como um dos principais objetivos da nova liderança. Mais de um milhão de pessoas foram já detidas no âmbito desta campanha, muitas delas eram altos dirigentes nacionais e regionais do partido. Muitos acreditam que o Presidente tem aproveitado esta ação para se desembaraçar de alguns opositores, mas a luta contra a corrupção tem-lhe trazido popularidade. O cidadão médio chinês vê com agrado o fim dos excessos praticados por alguma elite do país e não não se preocupa se para isso, o preço a pagar, for a detenção de um certo numero de inocentes.
A situação mais grave de violação dos direitos humanos, acontece, por esta altura, na província de Xinjiang. As Nações Unidas acreditam que cerca de 3 milhões de pessoas que integram a minoria étnica uigure foram sujeitas a detenções e integração forçada em campos de reeducação. A campanha contra os uigures, que são muçulmanos, agravou-se desde que Xi chegou ao poder. O Presidente justifica a repressão com a necessidade de combater o terrorismo islâmico e o "virus ideológico" do separatismo.
Para além dos milhões que estão detidos, os uigures em liberdade estão sujeitos a um sistema de vigilância que inclui câmaras colocadas em casas e bairros, redes de espiões locais, recolha de dados biométricos e tecnologias de reconhecimento de voz e rosto. Como na Rússia de Estaline, as crianças são encorajadas a denunciar os pais. Há quem diga que Winston Smith, do livro "1984" de George Orwell, teria reconhecido a província de Xinjiang.
Por causa dos uigures, a liderança chinesa tem sido alvo de uma crescente condenação internacional. Pequim tem optado por dizer que se trata de um assunto interno do país e já pediu à ONU e às organizações de defesa dos direitos humanos para não interferirem.
Descrito como uma pessoa afável o presidente chinês é reconhecido como um politico extremamente honesto. Há quem diga que Xi Jinping nunca iria além de uma infração como, por exemplo, esquecer-se de devolver um livro à biblioteca.
Xi descreve o próprio pensamento politico como pragmático e, ao longo do percurso até ao poder absoluto, cultivou uma imagem de líder próximo do povo. Era frequente nas províncias ele comer nas cantinas governamentais e muitas vezes despiu o fato e gravata para se assemelhar ao cidadão comum. Em 2007, um pouco antes de ser promovido, a esposa elogiou-lhe a natureza humilde e devoção ao país. Ela revelou que no segundo encontro que tiveram, foi avisada de que ele não teria muito tempo para a vida familiar. O Presidente é casado com uma popular cantora do Exército que, ao contrário das mulheres da maioria dos antigos lideres chineses, assumiu o papel de 1ª dama.
O aparelho de propaganda do Governo descreve-o regularmente como um patriarca e um líder firme, mas adorado, que luta contra a pobreza e a corrupção na China enquanto constrói o prestígio internacional do país como uma superpotência emergente.
Para além de Imperador e Príncipe, Xi é também conhecido na China como Xinnie the Pooh.
Alguém considerou que o Presidente é parecido com o urso viciado em mel e, em 2013, pôs a circular uma imagem em que de um lado aparece Xi com Obama, do outro Pooh com o Tigre. Pouco depois surgia uma outra imagem do chefe de estado a cumprimentar o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, lado a lado com Pooh a apertar a mão do burro. As imagens tornaram-se virais na China e começaram a ser usadas como forma de ridicularizar Xi Jinping. Winnie the Pooh acabou por ser proibido, tal como um filme da Disney com o famoso boneco, e no país não é possível pesquisar o urso na Internet.
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