PSD: Marco Almeida justifica que votos valem todos o mesmo para acordo com Chega em Sintra

Filipe Amorim/Lusa
"Há aqui uma questão que vale a pena valorizar, em democracia não há votos de primeira e votos de segunda. Os votos são atribuídos pelos sintrenses e os sintrenses ditaram que quer a coligação que liderei, quer o Partido Socialista e quer o Chega tivessem representantes no executivo municipal", refere
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O presidente da Câmara de Sintra justificou, esta sexta-feira, o acordo com o Chega pela necessidade de estabilidade no executivo, considerando que em democracia "não há votos de primeira" e de segunda, e assegurou que falou com todos os partidos.
"Há aqui uma questão que vale a pena valorizar, em democracia não há votos de primeira e votos de segunda. Os votos são atribuídos pelos sintrenses e os sintrenses ditaram que quer a coligação que liderei, quer o Partido Socialista e quer o Chega tivessem representantes no executivo municipal", afirmou Marco Almeida.
O autarca eleito pela coligação PSD/IL/PAN falava após a primeira reunião do executivo municipal, justificando o acordo firmado com o Chega para que dois eleitos assumam competências na autarquia, depois de falharem as conversas com os vereadores do PS, que tem quatro eleitos, tal como a coligação liderada por Marco Almeida.
"Eu fiz a minha parte, que foi falar com todos e desafiá-los. Houve uns que aceitaram e outros que não aceitaram. É este o dado concreto", acrescentou.
A vereadora Eunice Baeta, que viu a Iniciativa Liberal retirar-lhe a confiança política por discordar da entrega de pelouros ao Chega, escusou para já pronunciar-se, mas Marco Almeida disse estar "tranquilo" com a estrutura local da IL.
"As eleições de 12 de outubro deram a vitória à coligação Sempre com os Sintrenses que eu liderei, mas não atribuíram uma maioria. Ora, a minha preocupação foi encontrar condições para uma governabilidade estável durante estes próximos quatro anos", explicou o social-democrata.
Marco Almeida salientou que teve "a preocupação de falar com os vereadores das duas outras forças políticas, quer do Partido Socialista, quer do Chega", respeitando "a vontade democrática dos sintrenses", e recusou que o entendimento com o partido de extrema-direita possa ser visto com uma traição aos eleitores, pois a sua coligação "não tinha nem o Chega, nem o Partido Socialista".
"Os sintrenses que estão lá fora, que vivem nas diferentes freguesias e nas diferentes localidades, querem que o presidente de câmara encontre soluções para resolver os seus problemas. Para resolvermos os seus problemas, nós tínhamos que encontrar uma fórmula para garantirmos a estabilidade na governação da câmara. Desafiei todos, apenas uns aceitaram", reforçou, mostrando-se "satisfeito com isso".
O presidente da autarquia explicou ainda que encontrou-se com os vereadores socialistas Ana Mendes Godinho e Bruno Parreira e, como tinha sido "crítico da gestão autárquica" de Basílio Horta (PS), entendia que valeria a pena optar, "não fechando a porta a outro tipo de participação" noutras estruturas, que "apenas estivessem os novos vereadores eleitos no âmbito da coligação As Pessoas, Sempre [PS/Livre]".
Marco Almeida revelou que a "contraproposta que chegou" dava conta "de que pretendiam integrar os quatro vereadores e estabeleceu uma condição" de "que nunca governariam com o Chega".
"É uma opção do Partido Socialista, eu lamento é que quem se arroga como fundador da democracia não perceba os tempos em que vivemos e não perceba que não há limites à vontade popular, ao fim e ao cabo foram os sintrenses que escolheram", frisou.
Em relação à retirada da confiança política à vereadora Eunice Baeta, e ao pedido para que renunciasse ao cargo de vogal da comissão executiva da IL, o social-democrata disse que "é um processo que corre dentro da Iniciativa Liberal e eles entenderão fazer aquilo que devem fazer".
"Eu estou tranquilo com a Iniciativa Liberal local, porque tenho a garantia do coordenador de Sintra, o Miguel Martins, tenho a garantia da vereadora de que estão disponíveis para trabalhar e é isso que vamos fazer", notou, insistindo que não se preocupa "minimamente com isso".
Quanto às competências entregues ao Chega, o vereador Ricardo Aragão Pinto fica com Atividades Económicas e Mercados e Fundos Europeus, além de representante na A2S - Associação para o Desenvolvimento Sustentável da Região Saloia, Anabela Macedo fica com Fiscalização e Polícia Municipal e representação na Associação de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra para o Tratamento de Resíduos Sólidos (AMTRES).
A vereadora Rita Matias, que liderou a candidatura do Chega à câmara, mantém-se sem pelouros, de forma a acumular com o cargo de deputada na Assembleia da República.
"O PSD, a Iniciativa Liberal e o PAN, naturalmente, optaram por fazer um acordo com o Chega para o executivo. O PS estava completamente disponível para falar e para negociar, mas eles optaram pelo Chega", afirmou na quinta-feira Ana Mendes Godinho, em declarações à Lusa.
