"Pressão social e psicológica é tremenda." Trabalhadores da Autoeuropa temem efeitos de paragem
Os trabalhadores do parque industrial da Autoeuropa assumem que já sentem os efeitos, financeiros e mentais, da paragem forçada na empresa.
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Mário Fernandes é empregado da Autoeuropa há 26 anos. Trabalha na montagem final na produção dos veículos produzidos para o grupo Volkswagen. Há mais de duas décadas que acorda todos os dias para ir para a fábrica em Palmela. Era assim, pelo menos, esta segunda-feira. Agora, vê-se obrigado a ficar em casa, como o "grande grosso" dos trabalhadores do parque industrial da Autoeuropa.
Quando uma outra fábrica, na Eslovénia, foi atingida por um temporal e deixou de conseguir fornecer uma peça essencial para os automóveis que se constroem em Palmela, Mário e os colegas foram forçados a parar. Depois, foi um efeito dominó.
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António Costa é empregado da Rangel, uma das "empresas-satélite" da fábrica da Autoeuropa. Conta como, no início da semana, foram informados de que 94 trabalhadores temporários iam ser despedidos e os restantes 565 trabalhadores iriam entrar em regime de lay-off, sem qualquer contrapartida financeira.
"Lay-off puro e duro", descreve António. "É uma situação que nos preocupa bastante."
Os precários foram os mais atingidos, despedidos assim que deixou de haver trabalho para fazer. Mas mesmo aqueles que, como António, têm contrato sem termo há décadas, sofrem consequências. "No meu caso, faço parte da operação há 22 anos e a minha situação é exatamente igual à da maioria: estou em lay-off", diz.
A mesma situação em que se encontra Mário Fernandes, na Autoeuropa. "Tenho menos 5% do salário. Faz um grande impacto."
"Não é uma situação nada fácil", continua. "Já no dia a dia, com os aumentos que tem havido nas despesas correntes do mês e como tem sido, ultimamente, com as taxas de juro na habitação..."
"A pressão social é enorme e a pressão psicológica para fazer contas no mês de outubro, no final do vencimento do mês de setembro, é tremenda", confessa António Costa.
Mário conta que vai tendo notícias, pela TV, dos últimos desenvolvimentos na situação da empresa, mas que as certezas sobre o futuro são poucas. "Ainda ontem vimos na televisão que tem havido reuniões dos representantes das comissões de trabalhadores do parque industrial, com a ministra do Trabalho e com o secretário da Economia... Agora, se vamos chegar lá ou não vamos chegar lá..."
Um apoio do Estado às empresas que estão a dispensar trabalhadores, como admite o Governo, poderá ser a solução? Mário fica dividido. "Por um lado, é um bocado a parte egoísta nossa, dos trabalhadores, que queremos ver, o máximo possível, o nosso salário complementado. Agora, vendo a coisa tal e qual como ela é, não se entende lá muito bem que se esteja a recorrer a dinheiro do Estado e da Segurança Social - que não é só nosso: é também dos trabalhadores da Autoeuropa, mas é dos trabalhadores do país, que descontam para a Segurança Social diariamente", expressa.
Já António, da Rangel, pede ao primeiro-ministro - de um António Costa para outro - que faça é com que os verdadeiros "responsáveis" cumpram a parte que lhes cabe.
"A resposta tem de ser dada pela Rangel com supervisão da Autoeuropa. As duas empresas têm de ter responsabilidade nesta crise que está a ser criada. Quem não tem qualquer responsabilidade são os trabalhadores", defende.
Trabalhadores, esses, que ainda não sabem quando voltam a pegar ao trabalho - alguns, sequer se voltarão, apesar das promessas das empresas do parque industrial. A data pode não ser fixa, mas a previsão é de que a Autoeuropa permaneça parada até ao próximo mês de novembro.