Manuel Alegre advertiu a nova liderança socialista que não pode deixar as coisas na mesma, recusando que o PS seja a esquerda do Bloco Central ou o terceiro partido nacional do centro direita.
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Manuel Alegre falava aos delegados do XVIII Congresso Nacional do PS, em Braga, durante o período de discussão das moções de orientação estratégia, num discurso em que procurou identificar as causas dos sucessos eleitorais dos partidos de direita e as causas das derrotas dos socialistas.
A esquerda perde, segundo Alegre, «por se ter deixado colonizar ideologicamente e por ter feito políticas que não são as suas - e também por se der deixado embalar pela canção enganadora da terceira via, por ter capitulado quando não devia capitular e por ter aceite passiva e acriticamente as soluções impostas pelos especuladores que estão a dominar a Europa e a empobrecer os nossos países».
«Nós não estamos a fazer este Congresso para que tudo fique na mesma. É essa a minha esperança», disse, antes de considerar que o secretário-geral do PS, António José Seguro, tem pela frente um desafio de enorme dimensão.
«Não se trata apenas de iniciar um novo ciclo no PS. Trata-se de enfrentar um novo e terrível ciclo da História. Depois de libertar Portugal da ditadura, depois da instauração da democracia, temos agora de libertar a democracia confiscada por essa nova forma de ditadura, que é a ditadura dos especuladores e dos mercados financeiros», considerou.
Segundo Alegre, pede-se a Seguro e ao PS que façam «de novo História e iniciem um novo ciclo na História».
Numa referência aos compromissos internacionais assumidos por Portugal ao nível financeiro, Manuel Alegre disse aceitar que os socialistas tenham "sentido de Estado".
«Mas não se peça ao PS que seja cúmplice de uma política de direita contra o Estado Social e a coesão do país. O PS não é o terceiro partido do centro direita, nem a ala esquerda do bloco central», frisou.
Depois de pedir à nova direcção para que coloque o PS claramente à esquerda, o ex-candidato presidencial atacou o Governo PSD/CDS.
«Não estou a propor um tumulto nem a incendiar o país», porque «quem está a fazer um tumulto e a incendiar o país é o dr. Passos Coelho e o seu Governo com um ataque sem precedentes às funções sociais do Estado, com a venda ao desbarato de empresas e bens públicos, com a sobrecarga de impostos que está a estrangular a classe média e a empobrecer os portugueses, com a subserviência de quem em Portugal é a favor dos 'eurobonds' e perante a [chanceler germânica] Merkel diz que, afinal, é contra», afirmou.