Alunos sem professor podem chegar a 50 mil, representantes da educação criticam medidas
O contador oficial da FENPROF mostra, esta sexta-feira, que há 38 mil alunos com falta de professores, mas Mário Nogueira explica que o número real será mais alto porque o atual reporta apenas "as ofertas de contratação disponibilizadas".
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Com o estado da Educação e a falta de professores em debate esta manhã no Parlamento, o assunto passou também pelo Fórum TSF desta sexta-feira e o ministro da Educação parece não passar no crivo dos representantes do setor. A questão das mobilidades por doença, mas também a falta de atratividade da carreira e de apoios inscritos na proposta de Orçamento do Estado para 2023 estão entre os problemas apontados.
Mário Nogueira acusa o ministro de mentir ao dizer que as suas medidas "têm vindo a resolver o problema" e defende que, no máximo, "podem nalguns casos disfarçar", não chegando sequer a "ocultar o problema".
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No site da FENPROF, que Nogueira lidera, está um "contador de alunos com falta de professores", atualizado às quintas-feiras, que mostra o número 38.000, mas que será, na realidade, de perto de 50 mil. O instrumento, explica, conta "apenas as ofertas de contratação de escola disponibilizadas no site da Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE)", pelo que o problema "é pior" do que a contabilização possível.
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Os 38 mil alunos com falta de professores "são o número mais baixo possível", sendo que "no primeiro ciclo ou educação pré-escolar, faltar um professor significar faltar o [único] professor".
A FENPROF critica também que "quase 3000 professores, embora com reconhecidas doenças incapacitantes", nas quais se incluem as oncológicas, tenham sido impedidos de mudar para uma escola próxima da sua área de residência ou de tratamento, o que levou a uma escalada dos pedidos de baixa médica.
Pela Federação Nacional da Educação, João Dias da Silva também faz uma "apreciação crítica" das medidas do Ministério da Educação, garantindo que a tutela foi avisada para tomar medidas "a tempo e horas". Até agora, lamenta, as medidas regularizaram apenas um "número mínimo" de situações.
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A falta de professores tem "vindo a agravar-se, como estava previsto em todos os documentos de análise prospetiva feitos ao longo do tempo e que o Ministério da Educação conhecia", em especial pelo número de professores a aposentar-se, ao mesmo tempo que "não se acautelou a formação nem a atratividade da carreira docente". A FNE atira para "mais de 20 mil" o número de professores perdidos, que "hoje fazem falta" e estão "noutras profissões".
Pelos diretores das escolas, Filinto Lima também vê as medidas como insuficientes para resolver os constrangimentos com que as escolas se deparam e apela a uma "solução estrutural".
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"Enquanto houve uma turma ou um aluno que não tenha professor, nós não podemos dormir descansados. Este é um problema estrutural, do sistema, que merece uma medida estrutural", alerta o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas.
Embora reconheça "boa vontade" ao ministro da Educação, Filinto Lima alerta que João Costa precisa do "empurrão" do ministro das Finanças para que as medidas já tomadas não vão "por água abaixo".
Pelo Fórum TSF também passou Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, que vê na falta de professores um "flagelo" sem resposta no Orçamento do Estado para 2023.
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"Continuamos estoicamente a dizer que as coisas estão mal e que é preciso melhorar, mas depois em termos de políticas do Estado não se vê grandes alterações." Para Manuel Pereira, a solução passa por "valorizar e tornar a carreira mais estimulante".