Caso nas Infraestruturas é "inadmissível", mas Costa defende Galamba e vai reunir-se com o ministro

Leonardo Negrão/Global Imagens (arquivo)
Primeiro-ministro avalia como "legítimo" que o ministro demita "um colaborador em quem perdeu a confiança" e assegura que "ninguém no Governo deu ordens ao SIS para fazer isto ou aquilo" perante o roubo de um computador com "documentos classificados".
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Depois de vários dias a ser desafiado pelos partidos, da esquerda à direita, a vir a público falar sobre a polémica em torno do ministro João Galamba e do ex-adjunto Frederico Pinheiro, foi já na noite deste domingo que o primeiro-ministro surgiu a reconhecer que o que aconteceu é "a todos os títulos inadmissível" e a revelar que, na manhã desta terça-feira, vai falar pessoalmente com Galamba, cuja atuação defendeu.
"É muito claro para mim que o ministro não escondeu nem pretendeu esconder qualquer documento da comissão parlamentar de inquérito [à TAP]", disse Costa em declarações à RTP3 no aeroporto de Lisboa.
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Para o primeiro-ministro, "o que se passou, nem a título de exceção é admissível" e não é "o padrão nem a regra de funcionamento de um Governo". Ainda assim, Costa não põe em causa o "comportamento individual" de Galamba: "É obviamente legítimo que demita um colaborador em quem perdeu a confiança."
Reconhecendo que a "credibilidade das instituições foi obviamente afetada" pelo episódio, António Costa avaliou também o alerta dado ao SIS e a atuação das autoridades como algo "normal perante o roubo de um computador com documentos classificados".
Costa quis também esclarecer que o SIS "não foi chamado a intervir", mas apenas alertado para o sucedido, agindo depois "em conformidade". Confirmando o que o seu gabinete já tinha avançado ao início da noite - que não foi nem tinha de ser informado -, o primeiro-ministro garantiu também que "ninguém no Governo deu ordens ao SIS para fazer isto ou aquilo".
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"O SIS agiu em função do alerta que recebeu e no quadro das suas competências legais", explicou, alertando para o que diz ser um "pressuposto errado: não houve ordem ao SIS nem de São Bento, nem de nenhum membro do Governo. O que houve foi um alerta relativamente a um roubo".
Questionado sobre se mantém a confiança política no ministro João Galamba, o chefe de Governo recusou entrar em "especulações", revelando apenas que vai conversar com o governante nas próximas horas.
"Falarei amanhã [terça-feira] de manhã, pessoalmente, com o ministro das Infraestruturas, porque há coisas que não se tratam no estrangeiro e só pessoalmente", assinalou. "Depois direi o que entender dever dizer."
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Ainda assim, garante não ter "o menor indício de que o ministro tenha procurado esconder o que quer que seja" - algo de que foi acusado pelo ex-adjunto Frederico Pinheiro - "e pelo contrário tenho uma prova concreta: o ministro entregou à CPI os documentos que eram solicitados".
Segundo o Jornal de Notícias, o primeiro-ministro cancelou a presença em eventos previstos para esta terça-feira, no Minho.
Marcelo terá falado com Costa e entende que Galamba não tem condições para continuar
Já sobre se falou com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa - que ao longo do fim de semana e feriado nunca desfez a dúvida -, o primeiro-ministro respondeu apenas que conversa "muitas vezes" com o chefe de Estado, mas não se alongou: "Nunca ninguém me ouviu nem ouvirá fazer qualquer comentário sobre qualquer conversa com o senhor Presidente da República sobre este ou qualquer outro assunto."
No entanto, o Expresso garante que a conversa entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa aconteceu no sábado à noite. Nesta conversa, revela o Expresso, o chefe de Estado terá deixado claro que, no seu entendimento, João Galamba não tem condições para continuar no Governo. Por isso, a expectativa do Presidente da República é que o primeiro-ministro afaste o ministro das Infraestruturas.
Na análise aos últimos desenvolvimentos da CPI à TAP, Costa avisou também que se comissões desta natureza "passam a ser transformadas numa arena de combate político, como se estivéssemos no plenário, quem o faz não está a perceber que está a fragilizar um dos mais importantes instrumentos de fiscalização de ação política do Governo".
E porque este último "responde politicamente perante a Assembleia da República, fragilizar a ação de fiscalização" desta é "fragilizar o principal instrumento de responsabilização política do Governo".
"É preciso ter muita prudência na forma como se desbarata e se desprestigia o que é a mais-valia das CPI", avaliou, deixando um recado ao líder do PSD, Luís Montenegro: "Não comento o que se passa na CPI, por respeito."
* Notícia atualizada no dia 2 de maio às 7h45