Comício de Bolsonaro? Marcelo demarca-se e diz representar Portugal "fosse qual fosse o Presidente" do Brasil
Presidente português pede que se separe os regimes e as personalidades das comemorações da independência do Brasil e lembra o número de portugueses e brasileiros a viver nos dois países.
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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, demarcou-se esta quarta-feira de qualquer polémica ligada à presença no desfile de celebração do bicentenário do Brasil, que muitos estão a ver como um comício de Bolsonaro na corrida ao Planalto, e garantiu estar em Brasília para representar Portugal "fosse qual fosse o Presidente".
Questionado pelos jornalistas no final da cerimónia, Marcelo assinalou que Portugal "tem relações diplomáticas com democracias e ditaduras" e que o próprio já convidou chefes de Estado para ir a Portugal e visitou países "independentemente dos regimes serem parecidos ou não, das personalidades serem parecidas ou não, das conjunturas políticas serem parecidas ou não".
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"O que interessa é que há um milhão de portugueses a viver no Brasil e há 250 mil brasileiros a viver em Portugal e esses continuarão a viver, qualquer que seja o Presidente e qualquer que seja o governo", sublinhou perante a insistência dos jornalistas, acrescentando ainda ter a função de "representar a nação portuguesa".
"Estou aqui para representar Portugal num momento histórico, fosse qual fosse o Presidente. A campanha dura x tempo, o mandato dura mais e a história de 200 anos dura muito mais", explicou.
Antes, num discurso inserido nas comemorações, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, insistiu na ideia de que as eleições que vão decorrer no país no próximo mês de outubro são uma "luta do bem contra o mal", que acusa de querer "voltar à cena do crime" depois de 14 anos no poder, referindo-se a Lula da Silva e Dilma Rousseff.
O discurso, proferido num tom exaltado e recebido com muitos aplausos dos apoiantes presentes nas tribunas do recinto, foi visto como mais uma ação de campanha do líder brasileiro. Questionado sobre a presença de muitos apoiantes de Bolsonaro no recinto, Marcelo assinalou que nem toda a gente encaixava nessa descrição, nomeadamente "presidentes, embaixadores e dignitários" que o ladeavam.
"As pessoas têm de saber distinguir o que une os povos, nações e Estados e o facto de haver, em determinado momento, um Presidente que se chama A ou que se chama B", asseverou também, lembrando que o Brasil "é de longe o país mais falante de português no mundo" e que, "se fosse só Portugal a falar português, éramos muito menos".