Costa "desdramatiza", fala em "convergência" no futuro e avisa Marcelo que cada um "exerce as suas competências"
Primeiro-ministro assinalou que esta é a primeira vez "em sete anos e dois meses" que São Bento e Belém não "acertaram agulhas".
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"Sem novidade", palavras do próprio primeiro-ministro, António Costa confirmou esta sexta-feira uma "divergência" com o Presidente da República sobre o passado, em relação ao caso João Galamba, mas defendeu que "não se justifica dramatizarmos" a relação entre São Bento e Belém, até porque ambos têm "total convergência no futuro".
Na primeira reação pública ao discurso do Presidente da República, na última noite, o primeiro-ministro assinalou que Marcelo "confirmou o que já sabíamos, que temos uma divergência quanto à responsabilidade por um conjunto de eventos deploráveis".
Assinalando que "em sete anos e dois meses" esta foi uma "exceção numa relação" que tem sido marcada pela capacidade de acertarem agulhas, António Costa assinalou, à saída do Picadeiro Real, em Belém, após a cerimónia de entrega do Prémio Camões à escritora moçambicana Paula Chiziane, que "não se justifica dramatizarmos que tenha havido um momento em que as agulhas não tenham ficado acertadas".
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A olhar para o futuro - como fez Marcelo Rebelo de Sousa no seu discurso - o chefe do Governo aponta agora a uma "total convergência" em que ambos defendem que "o que mais importa é manter uma boa cooperação para manter a estabilidade" e "prosseguir uma ação em que as melhorias da economia se vão progressivamente traduzindo na melhoria das condições de vida dos portugueses".
Questionado sobre a vigilância mais atenta que o Presidente da República prometeu tomar, Costa garantiu que isso é algo que "todos os portugueses confiam e desejam" e que o Governo "não é exceção" a essa vontade.
"Conhecemo-nos há muito tempo", sublinhou Costa, incluindo enquanto professor e aluno, e agora "temos todos tido aulas de Direito Constitucional bastante coletivas", nada de estranhar, assinalou, "desde que cada um exerça as competências próprias que a Constituição lhe atribui".
E perante tudo o que "tem agitado muito o noticiário político", diz o primeiro-ministro, "ninguém tem dúvidas" de que, quer o próprio, quer o Presidente da República, "agiram no estrito cumprimento das suas competências constitucionais".
História com Galamba "é muito clara"
Sobre se João Galamba tem condições para continuar a ser ministro das Infraestruturas, respondeu que essas "medem-se desde logo pelos resultados".
"Ainda ontem [quinta-feira], o senhor ministro das Infraestruturas teve ocasião de lograr um acordo que pôs termo a uma greve na CP que já se arrastava há bastante tempo, prejudicando bastante o dia a dia dos portugueses", o que se traduz, diz, numa "enorme melhoria para a qualidade de vida dos portugueses e em paz na empresa".
Já quanto a se Galamba deve assumir responsabilidades pelo caso, pediu que não se "revisite a história, porque é muito clara: quando entendeu que esse seu colaborador não merecia a sua confiança, procedeu à sua demissão e tudo o que aconteceu a seguir foi decorrência dessa demissão".
Na quinta-feira, na sua comunicação, Presidente da República prometeu que estará "ainda mais atento e mais interveniente no dia a dia" para prevenir fatores de conflito que deteriorem as instituições e "evitar o recurso a poderes de exercício excecional".
O chefe de Estado qualificou a sua discordância em relação à decisão do primeiro-ministro de manter João Galamba como ministro das Infraestruturas como uma "divergência de fundo" e considerou que essa decisão de António Costa tem custos "na credibilidade, na confiabilidade, na autoridade do ministro, do Governo e do Estado".
"O que sucedeu terá outros efeitos no futuro. Terei de estar ainda mais atento à questão da responsabilidade política e administrativa dos que mandam, porque até agora eu julgava que sobre essa matéria existia, com mais ou menos distância temporal, acordo no essencial. Viu-se que não, que há uma diferença de fundo", considerou.
"Assim, para prevenir o aparecimento e o avolumar de fatores imparáveis e indesejáveis de conflito, terei de estar ainda mais atento e mais interveniente no dia a dia, para evitar o recurso a poderes de exercício excecional que a Constituição me confere e dos quais não posso abdicar", prosseguiu.