Em 2017 viu o nome lançado para a imprensa, em 2018 pediu explicações a Rio, em 2019 candidata-se à liderança. Será 2020 o ano de Miguel Pinto Luz?
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Não foi surpresa para ninguém quando o nome de Miguel Pinto Luz surgiu na corrida à liderança do PSD. Na verdade, o nome já circulava nos bastidores como "oficial" há algum tempo e as sementes foram lançadas ainda antes de Rui Rio ser presidente do partido. E de quem é a culpa? Miguel Relvas.
Tudo começou com uma entrevista ao Expresso, em setembro de 2017, quando Relvas mencionou o nome de Miguel Pinto Luz como alguém a ter em atenção no futuro do PSD pós-Passos. Colocando o nome de Pinto Luz ao lado do de Luís Montenegro e de Pedro Duarte, Miguel Relvas referiu-se ao agora candidato como alguém "da nova geração", ainda sem "imagem construída" mas "muito bem preparado".
Desde então, o nome de Pinto Luz começou a ganhar força, mas já lá vamos... Com 42 anos, é vice-presidente da Câmara de Cascais, número dois do também social-democrata Carlos Carreiras. Formado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores pelo Instituto Superior Técnico, desde 2005 que está em funções autárquicas no concelho cascalense, igualmente com funções de administrador em representação da autarquia em diversas agências e empresas do universo municipal e intermunicipal.
Com mais de 20 anos de militância no aparelho social-democrata, além de ter feito parte da direção de Pedro Passos Coelho como vogal, foi presidente da distrital de Lisboa entre 2011 e 2017, ano em que decidiu não recandidatar-se por razões pessoais. A saída de Pinto Luz acontece antes da pré-campanha para as autárquicas de 2017, em que a aposta do PSD em Lisboa - Teresa Leal Coelho - teve um resultado muito contestado (11%).
Miguel Pinto Luz teve ainda uma breve passagem pelo Governo ao fazer parte do Executivo com a vida mais curta na história da democracia nacional. O autarca foi secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações no Governo de Passos Coelho, indigitado primeiro-ministro por Cavaco Silva em 2015, depois das eleições que a coligação Portugal à Frente venceu sem maioria absoluta.
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A carta
Se em 2017 não aproveitou o caminho aberto por Miguel Relvas, em 2018, Pinto Luz posiciona-se. Ainda Rio não tinha aquecido a cadeira de presidente e já estava a receber uma carta do autarca de Cascais.
Nessa carta aberta anterior ao congresso de confirmação de Rui Rio, Miguel Pinto Luz não é brando: "O mandato agora conquistado não lhe permite não vencer as próximas eleições legislativas". O social-democrata vai mais longe, dizendo que a moção de Rio apresentava algumas omissões que gostava de ver esclarecidas e deixou uma espécie de caderno de encargos de onde saltava à vista a impossibilidade de "estabelecer contactos ou encontros informais e discretos com a liderança do PS com o propósito de abordar a reedição de um bloco central".
Conhecida a carta antes do congresso de fevereiro de 2018 , Pinto Luz diz em entrevista à SIC que "só há uma opção para o líder do PSD e que é ganhar eleições". "Se não ganhar, [que faça] como eu fiz, perdi eleições autárquicas, demiti-me e, se entender que tenho algo mais a dar ao partido, coloco outra vez o meu destino nas mãos dos militantes", dizia Pinto Luz à época.
Apesar de não querer falar sobre uma eventual candidatura, muitos viram aqui um posicionamento para o futuro. Daí até então, Pinto Luz recusou entrar no barco agitado que foi a crise de janeiro de 2019 no PSD, com o desafio de Montenegro à liderança do partido, mas o nome volta à berlinda aquando da elaboração das listas de candidatos à Assembleia da República.
Pinto Luz foi apontado como "primeiro nome" do PSD/Lisboa para candidato à Assembleia da República, indicação que acabou por ficar de fora das opções da direção de Rui Rio, que considerou que "não seria uma prioridade". O autarca não se retraiu e, numa declaração escrita, vincou a posição: "Sei qual deveria ter sido o caminho do PSD, mas, por agora, apenas sei muito bem qual o meu caminho, e não é um veto que me irá fazer recuar ou ter dúvidas sobre o futuro". E não teve. Em outubro anunciou a candidatura com um vídeo na internet, dizendo que este "não é tempo para taticismos" e que o PSD "não pode esperar mais quatro anos".
Lado laranja da força?
Fã assumido da saga da Guerra das Estrelas, Miguel Pinto Luz trouxe algum bom humor à campanha com uma publicação nas redes sociais sobre "a Força". Uma imagem do Mestre Yoda, com a famosa deixa "Que a força esteja contigo". Tudo por causa da troca de argumentos entre Rui Rio e Luís Montenegro sobre a "força que vem de dentro", slogan de campanha de Montenegro.
https://www.facebook.com/miguelpintoluz/posts/3441993732507278
"Mais do que divagar sobre a origem da nossa força, estou determinado em unir e liderar um Partido que dê mais força aos portugueses", responde Pinto Luz, posicionando-se na campanha. Mais tarde, questionado na TSF , o autarca explica que "as candidaturas começaram a disputar a origem da força, uns tinham a força originária de dentro, outros de fora". No entanto, na batalha até 11 de janeiro, Pinto Luz não identifica ninguém com personagens da saga.
Jedi e Sith à parte, uma inspiração é certa (além do óbvio Sá Carneiro): Pedro Passos Coelho. Também na TSF, o candidato a líder do PSD elege o antigo primeiro-ministro como aquele que mais o inspira.
"Injustamente, Pedro Passos Coelho levou com o rótulo de perigoso liberal", nota Pinto Luz, deixando clara a ideologia. No entanto, uma certeza para o futuro: "O PSD tem de se posicionar ao centro, porque é ao centro que se ganham eleições".
E terá Miguel Pinto Luz outras "forças" por trás da candidatura? No único debate da campanha que aconteceu na RTP no mês de dezembro, Pinto Luz fez questão de "tirar o elefante de dentro da sala". "Fui membro da maçonaria com 20 e poucos anos e saí há mais de 10. Com a mesma liberdade com que entrei, também saí. Desde que tenho cargos públicos, não pertenço à maçonaria", sublinhou o autarca de Cascais.
Como qualquer pessoa responsável que se candidata a eleições, Pinto Luz tem a tónica no vencer eleições, mas olhando para a contagem de espingardas a nível nacional, as hipóteses são mais reduzidas do que as dos outros candidatos. Mas que surpreendeu, ninguém tem dúvidas, até Luís Marques Mendes o admitiu na última noite, na SIC, notando que o vice-presidente de Cascais até poderá ter uma percentagem "superior às expectativas" situada "entre os 12% e os 15%".
Resta a dúvida: com quem ficará a força? No caso, a laranja.