"É a hora da justiça". Casos de abuso são "derrota" para a igreja e "qualquer número é demasiado"
Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa assinala que o número de casos "ser um ou serem muitos não interessa", uma vez que todos causam sofrimento.
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O bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, defendeu esta quarta-feira em conferência de imprensa que esta é a "hora da justiça" atuar no que respeita aos casos de abuso sexual na igreja e assumiu que cada um "é uma derrota porque alguém sofre".
"Para nós igreja, cada caso que acontece é uma derrota porque alguém sofre e foi espezinhado nos seus direitos fundamentais de uma forma que é a que mais atingiria qualquer pessoa", reconheceu o também responsável pela Conferência Episcopal Portuguesa.
Em conferência de imprensa, o bispo não deixou de assinalar que as pessoas "não são um número, mas sim pessoas com dramas muito grandes", pelo que o número de casos "ser um ou serem muitos não interessa". Confrontado depois com as polémicas declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o número de denúncias conhecidas, o bispo asseverou apenas que "qualquer número é demasiado".
"Interessa conhecer" porque a igreja não deve viver com um "peso desconhecido" sobre si. Cada caso de abuso sexual "contradiz radicalmente tudo" o que a igreja "quer, é e quer ser", assinala, sem esquecer que sai afetada também a "identidade e missão".
No arranque desta conferência de imprensa, o bispo reafirmou que os dois casos que o visam sobre a alegada ocultação de abusos sexuais na Igreja - "que tem estado a lume bastante aceso nos últimos dias" - foram ambos "claramente" bem explicados, argumentando que não "houve nenhuma manobra de encobrimento", mas sim o "tratar das coisas "segundo aquilo que era possível". Com as informações que tinha na altura, "foram tomadas as medidas adequadas", defende.
As suspeitas de abusos em Portugal, desde 2003 até agora, "foram sendo tratadas com o conhecimento dos casos que se tinha nessa altura", afirma.
"Foram submetidos à justiça e à Procuradoria-Geral da República, tendo sido arquivados ambos os casos", frisa o bispo, acrescentando as duas situações foram alvo de um tratamento processual dentro da Igreja, "e também aí foram tomadas as medidas apropriadas". José Ornelas está, por isso,"tranquilo".
Questionado sobre se foi contactado pelo Ministério Público sobre as investigações de que está a ser alvo, José Ornelas negou: "Soube destas coisas pelos meios de comunicação e é nessa linha que estou."