Eleições eram "inevitáveis". Centeno seria "ótimo PM", mas "politicamente insustentável"
O nome proposto por António Costa a Marcelo Rebelo de Sousa para liderar um Governo de maioria socialista agrada a Pedro Siza Vieira, mas o país precisa de ir a votos para dar "legitimidade" a um novo executivo, defendeu o comentador do Bloco Central da TSF.
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O antigo ministro da Economia Pedro Siza Vieira reconhece que Mário Centeno "seria um ótimo primeiro-ministro" de Portugal, cargo para o qual foi proposto por António Costa ao Presidente da República, mas representaria uma solução "politicamente insustentável", pelo que é "inevitável haver eleições" para legitimar qualquer novo executivo.
O primeiro-ministro demissionário António Costa revelou na noite desta quinta-feira que propôs a Belém a indicação do atual governador do Banco de Portugal para liderar um novo Governo apoiado pela maioria socialista por entender que Centeno é "uma personalidade de forte experiência governativa, respeitado e admirado pelos portugueses, com forte prestígio internacional".
A nega de Marcelo Rebelo de Sousa levou Costa a comentar que "o Presidente da República entendeu que, melhor do que uma solução estável, com um Governo forte e de qualidade renovada, sob a liderança do professor Mário Centeno, a opção era a realização de eleições" e que "o país não merecia ser de novo chamado a eleições".
Na leitura política de Pedro Siza Vieira a este episódio no Bloco Central, da TSF, Mário Centeno "seria um ótimo primeiro-ministro, provavelmente o melhor primeiro-ministro que Portugal poderia ter, agora ou em qualquer outro momento, mas a verdade é que politicamente era insustentável essa situação".
O que fez "cair o Governo", notou, não foi uma demissão do primeiro-ministro "por ir para Bruxelas exercer um cargo europeu", mas sim uma situação que, "queira-se ou não se queira, mesmo que se esteja convicto de que os factos que estão agora a vir a conhecimento público não consubstanciam nenhuma infração criminal, atinge obviamente a solidez da maioria que existe".
Assim, na leitura do comentador da TSF, torna-se "inevitável haver umas eleições que refresquem a legitimidade de qualquer Governo" e que salvaguardem "também a legitimidade das instituições", em contraste com um Governo viabilizado por indicação do Presidente da República.
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No discurso que fez ao país na noite desta quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa mencionou justamente como razões para dissolver a Assembleia da República e convocar eleições para 10 de março de 2024 - ao invés de indicar a formação de um novo Governo - tanto a fragilidade de qualquer novo executivo "com a mesma maioria, mas com qualquer outro primeiro-ministro" sem que esse estivesse "legitimado política e pessoalmente pelo voto popular", como o "risco" de ter um Governo apenas "suportado pelo Presidente da República" e com este como "inspirador político".
O conselho ao futuro líder: "Nós" e não "eu"
Da demissão de António Costa nasceu também a necessidade de o PS eleger um novo secretário-geral - as diretas já estão marcadas para 15 e 16 de dezembro -, estando já confirmado que José Luís Carneiro é candidato. Pedro Nuno Santos pode também apresentar-se a votos, mas não foi oficializada qualquer candidatura do antigo ministro. Ana Catarina Mendes já se colocou fora da corrida, tal como Marta Temido.
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Perante este elenco ainda aberto, Siza Vieira avisa para já que, seja quem for o próximo secretário-geral socialista, terá "sobretudo o problema de se confrontar com um potencial de rejeição do PS que é muito grande".
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A "recomendação e esperança" para resolver esse problema é a de que o novo líder, "mais do que dizer: "Eu estou aqui em nome disto e com um programa eleitoral para fazer isto e fazer aquilo"" possa ter outro discurso: o de que "Nós estamos aqui porque o país precisa de um partido centro-esquerda que deu tanto e que ainda tem muito para dar."