Fectrans diz haver empresas de transportes a "dificultar" marcação de férias na JMJ
José Manuel Oliveira diz haver "indícios" de que o metro de Lisboa, a Transtejo e a Soflusa estão a tentar impedir os trabalhadores de reservar dias.
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A Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans) denuncia o que diz serem "indícios" de que há empresas de transportes em Lisboa a "dificultar" a marcação de férias dos trabalhadores no período em que vai decorrer a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), de 1 a 6 de agosto.
Quando faltam quatro meses para o evento, os trabalhadores destas empresas ainda estão à espera de orientações para saber se vão ter de trabalhar mais horas, sendo o plano de mobilidade apresentado apenas na tarde desta quarta-feira.
O coordenador do grupo de projeto da JMJ, Ricardo Sá Fernandes, já afirmou ao Jornal de Notícias que os transportes públicos vão estar a funcionar na capacidade máxima durante os dias do evento, incluindo ao fim de semana.
Pela Fectrans, o coordenador José Manuel Oliveira dá conta, em declarações à TSF, de que embora a marcação de férias esteja a decorrer de forma "normal", houve em algumas empresas "indícios" de ações para "tentar impedir que os trabalhadores tirassem férias".
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Desafiado pela TSF a nomear as empresas em questão, o responsável avançou que "um primeiro indício disso" surgiu no metro de Lisboa - embora "não diretamente a impedir, mas a dificultar algumas situações" -, e "também na Transtejo e Soflusa".
"Daquilo que sabemos, neste momento, não há evoluções relativamente a essa matéria, tudo se mantém relativamente normal", assinalou.
Para a Fectrans, tendo em conta a dimensão da JMJ, "seria desejável que houvesse, em todas as empresas, uma informação concreta do que se vai fazer".
"Até para evitar aqueles problemas que às vezes acontecem, normalmente, quando há situações novas na organização do trabalho. Estamos à espera, estamos na expectativa para ver o que é que vai acontecer", indicou.
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Protesto por aumentos salariais
Largas dezenas de trabalhadores de empresas públicas de transporte partiram esta manhã, pelas 10h30, do Largo Camões, em Lisboa, em desfile para a casa oficial do primeiro-ministro, em São Bento, reivindicando um aumento de salários.
A marcha foi iniciada após os participantes aprovarem por unanimidade uma resolução em que exigem a reabertura dos processos de negociação na CP - Comboios de Portugal, no grupo IP (Infraestruturas de Portugal), na Transtejo e na Soflusa (ambas responsáveis pelas ligações fluviais no Tejo entre os distritos de Lisboa e Setúbal), bem como a continuação das negociações na Metropolitano de Lisboa.
Pelo caminho gritaram palavras de ordem como "o aumento do salário é justo e necessário", "o público é de todos, o privado é só de alguns" ou "os salários a encolher, os lucros a crescer".
Uma hora depois de terem iniciado a marcha, os trabalhadores chegaram a São Bento, onde uma delegação composta por vários elementos dos sindicatos foi entregar uma carta à assessoria de António Costa.
Conforme explicou à Lusa José Manuel Oliveira, a carta entregue reflete o descontentamento dos trabalhadores e baseia-se na resolução aprovada hoje de manhã.
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"Alertamos para o aumento dos salários e a valorização das profissões, além do poder de compra [perdido ao longo do tempo]", disse, indicando ainda a necessidade de reabertura dos processos negociais efetivos.
José Manuel Oliveira sublinhou também a "dificuldade em fixar e recrutar trabalhadores", tendo em conta os baixos salários oferecidos, e sublinhou estarem em causa "profissões específicas e de elevada especialização".
Devido à desvalorização salarial, acrescentou, "começa-se a assistir a uma fuga de trabalhadores para outros setores e começa a haver dificuldade em recrutar novos trabalhadores".
O sindicalista lembrou igualmente que o Governo deu razão aos sindicatos e reconheceu que os pressupostos das negociações nas empresas públicas "estavam desajustados", lembrando que, posteriormente, o primeiro-ministro disse que com "o aumento dos salários se combate a inflação".
"António Costa deve ser coerente e promover as negociações que os trabalhadores exigem e reivindicam", frisou.
O responsável alertou ainda que irá ser pedida uma reunião conjunta com os ministros das Finanças, das Infraestruturas e do Ambiente e Ação Climática (que tutela os transportes urbanos), nos quais António Costa delegou a resposta ao pedido de reunião dos sindicatos.
Na resolução, os trabalhadores aprovaram também a realização, no dia 14 de abril, de uma reunião de dirigentes e delegados sindicais, membros das comissões de trabalhadores r das organizações subscritoras do documento "a fim de analisar o desenvolvimento dos processos em cada empresa e decidir novas ações comuns".
Os trabalhadores das empresas públicas de transporte reivindicam um aumento dos salários que reponha o poder de compra e dignifique as profissões, que têm vindo a ser desvalorizadas ao longo dos anos por as atualizações salariais não terem acompanhado o crescimento do salário mínimo nacional.
Os sindicatos representativos dos trabalhadores da CP, da IP, da Metropolitano de Lisboa e da Transtejo/Soflusa (estas duas empresas têm uma administração comum) convocaram em março a concentração de hoje, pela valorização dos salários e das condições laborais.
Os trabalhadores destas empresas têm realizado várias greves nos últimos meses, reivindicando a reposição do poder de compra e a melhoria geral das condições de trabalho.
Além da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), organizadora do protesto, fizeram representar-se uma quinzena de estruturas sindicais do setor dos transportes.