IL contra indicação de João Leão como candidato ao TCE por falta de "garantias de independência"
Bernardo Blanco alerta que, se for indicado, João Leão poderá ter de fiscalizar fundos europeus do atual e até do anterior Governo, que integrou.
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A Iniciativa Liberal manifestou-se esta segunda-feira contra a indicação do ex-ministro das Finanças João Leão como um dos candidatos propostos pelo Governo para o Tribunal de Contas Europeu (TCE), por "não dar garantias suficientes de independência" face ao Executivo.
O ex-ministro das Finanças João Leão, a ex-presidente da Aurotidade da Concorrência (AdC) Margarida Matos Rosa e o professor de Direito José Renato Gonçalves são os três candidatos propostos pelo Governo para o TCE, estando a sua audição agendada para terça-feira na Comissão de Assuntos Europeus, um requisito obrigatório antes de o Governo escolher um deles.
"A IL está contra esta eventual nomeação pelo Governo socialista de João Leão, ex-ministro das Finanças socialista, porque consideramos que não apresenta garantias suficientes de independência face ao Governo", afirmou o deputado Bernardo Blanco, em declarações à Lusa.
O deputado considerou este caso semelhante à nomeação de Mário Centeno, também ex-ministro das Finanças do PS, para governador do Banco de Portugal, mas estando desta vez em causa um cargo europeu.
Bernardo Blanco alertou que, se for indicado para o TCE, João Leão poderá ter de fiscalizar fundos europeus do atual e até do anterior Governo, que integrou.
"Não nos parece muito correto ter João Leão a fiscalizar ex-colegas de Governo", disse, reiterando que o seu nome "não apresenta garantias suficientes de independência", ao contrário dos outros dois candidatos.
Na audição de terça-feira, os liberais prometem abordar o que consideram ser este "potencial conflito de interesses" de João Leão e esperam que o Governo leve em consideração esses alertas.
"Iremos expor estas nossas preocupações, que ficarão refletidas no relatório. A Assembleia da República não veta nomes, só pode fazer pressão pública e parlamentar. E o Governo, consoante as audições e o trabalho do parlamento, pode avaliar se é suficientemente grave ou não para retirar a indicação", disse.
O envio ao parlamento dos nomes dos três candidatos e o agendamento da respetiva audição em comissão surge depois de, no início de setembro, o eurodeputado Carlos Coelho ter questionado a Comissão Europeia sobre a inexistência, há já dois anos, de um membro português no Tribunal de Contas Europeu, na sequência da morte de João Figueiredo, em 2021.
Segundo a legislação, após a indicação de três pessoas, o executivo submete os seus currículos ao parlamento, onde decorrerão audições prévias na Comissão de Assuntos Europeus para avaliação da competência de cada nomeado.
Concluído este processo, o Governo escolhe um e submete esse nome às entidades europeias. O escolhido ainda tem de ser ouvido no Parlamento Europeu, para consulta, cabendo depois ao Conselho a nomeação ao cargo de juiz do Tribunal de Contas Europeu.
Assim, os membros do TCE - o auditor externo da UE - são propostos por cada Estado-membro e nomeados pelo Conselho da União Europeia após consulta ao Parlamento Europeu (PE).