"Intenção não foi ofender." Marcelo pede desculpa às vítimas de abusos sexuais

Marcelo Rebelo de Sousa
António Cotrim/EPA
Chefe de Estado explicou temer que "muitas vítimas, por medo ou por limitação, não tivessem falado".
Depois da polémica, o pedido de desculpa. O Presidente da República garantiu esta quinta-feira que não quis ofender as vítimas de abusos sexuais, em especial as que tenham sido alvo de responsáveis da Igreja Católica portuguesa, com as declarações polémicas sobre o número de denúncias.
"Se, porventura, uma que seja das vítimas está ofendida, peço desculpa por isso", disse Marcelo Rebelo de Sousa numa curta declaração aos jornalistas, referindo-se a "todas as vítimas de abusos sexuais, mas em particular dos que vêm da parte de responsáveis da Igreja Católica".
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"A minha intenção não foi ofender quando disse o que disse", sublinhou, antes de explicar que as suas declarações nasceram do receio de que "muitas vítimas, por medo ou por limitação, não tivessem falado" e que o número de denúncias, "que deveria ser ainda mais alto, tivesse ficado por onde ficou".
À saída de um evento na Fundação Gulbenkian, o Presidente da República aproveitou também para agradecer as "centenas e centenas de mensagens" de apoio que disse ter recebido nos últimos dois dias.
Segundo Marcelo, as comunicações referiam que conhecem "há não sei quantos anos" o Presidente e os sete anos que leva de mandato: "Sabem que as causas sociais dos pobres, dos explorados, dos dependentes e dos abusados são as minhas causas sociais."
O chefe de Estado assinalou ainda que este o seu caráter "é o que é, não muda aos 74 anos e ao sétimo de mandato".
Numa última referência, que dirigiu à comunicação social - realçando o papel "fundamental em democracia" - e aos que "no mundo político formularam juízos", explicou que "faz parte da democracia o espírito crítico, a abertura e o não haver censuras próprias da ditadura".
"Queria garantir aos portugueses e a todos quantos servem e devem servir os portugueses que o Presidente cá está, vai continuar o seu caminho - que tem ainda pela frente três anos e meio -, exatamente como sempre foi, sem mudar uma vírgula nos valores, princípios, determinação e sempre ao serviço dos portugueses e de Portugal", concluiu, sem dar espaço a perguntas.
A polémica
Na terça-feira, questionado sobre a recolha de 424 testemunhos de abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica em Portugal, o Presidente da República disse não estar surpreendido, salientou que "não há limite de tempo para estas queixas" que têm estado a ser recolhidas, algumas relativas "há 60 ou há 70 ou há 80 anos".
"Significa que estamos perante um universo de pessoas que se relacionou com a Igreja Católica de milhões ou muitas centenas de milhares", prosseguiu Marcelo Rebelo de Sousa, concluindo: "Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado, porque noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos".
Face às críticas que as suas declarações suscitaram, o chefe de Estado divulgou uma nota a explicar que "este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo mundo", admitindo que "terá havido também números muito superiores em Portugal".
Depois, o Presidente da República falou para a RTP e para a SIC a reforçar a mesma mensagem, reiterando que 424 queixas lhe parece um número "curto" face ao que estima ser a realidade, declarando que aceitava democraticamente as críticas que recebeu, mas não as compreendia.
Os 424 testemunhos foram recolhidos pela designada Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, uma estrutura constituída por decisão da Conferência Episcopal Portuguesa e coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.