"Não conseguimos aguentar." Produtores de gado mandam abater animais para evitar prejuízos
Eduardo Mira Cruz, que faz criação de bovinos há quase 30 anos, conta à TSF que nunca passou por uma seca tão grande.
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Os produtores de gado estão a tentar evitar mais prejuízos recorrendo ao abata de animais. Eduardo Mira Cruz, que faz criação de bovinos há quase 30 anos, contou à TSF que nunca passou por uma seca tão grande e confessa que não sabe como vai alimentar o gado que tem no Alentejo.
"Apanhou-me exatamente aqui no meio das minhas vacas. Tenho todas a comer os últimos fardos de feno que consegui arranjar porque não tenho rigorosamente nada. O trabalho de 30 anos de seleção animal e tudo o que tenho feito vai por água abaixo este ano", admite Eduardo Mira Cruz.
A situação é a mais grave que já viveu. A guerra na Ucrânia fez disparar os custos com o gasóleo e as peças para as máquinas agrícolas, mas a maior preocupação é mesmo a ração para os animais.
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"Só para terem uma ideia, um fardo de feno está a custar 120 euros e alimenta-me 25 vacas durante dois ou três dias. Uma vaca normal come entre 12 a 14 quilos de feno por dia. Estes fardos têm 400 quilos, é só fazer as contas", explicou à TSF o produtor de gado.
Enquanto espera soluções do Governo, Eduardo Mira Cruz tem-se valido da ajuda de outros produtores.
"Um vizinho, que teve pena de mim porque já não tinha nada de forragem, mandou-me para aqui um camião de forragem. Vou ter de lhe pagar, ainda não sei quanto é. Não dá. O último camião que descarreguei há 15 dias foram 2800 euros. Impossível, não conseguimos aguentar", contou.
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Perante as dificuldades a decisão é abater. Das 220 vacas que tem, uma centena vai para abate, mas é uma decisão difícil.
"A tristeza é tão grande que nomeei as vacas para sair no papel, não olhei para elas nem quero saber quais são porque nós criamo-las, vemo-las nascer. São 20h30, estou aqui no meio delas. Não quero saber quais são as que se vão embora. Vou dar a listagem dos animais aqui a um dos meus colaboradores, nem quero ver para não ficar ainda mais constrangido e aborrecido", desabafou Eduardo Mira Cruz.
O criador de gado considera que é a melhor solução para evitar mais sofrimento.
"Sempre me ensinaram: se temos coração para as criar também temos de ter coração para tomar decisões para que elas não sofram. A partir deste momento estou a fazer os possíveis para que não percam quilos, estejam alimentadas e saudáveis. Daqui para a frente é tudo para perder, portanto vão para abate", acrescentou criador de gado.
Quase metade dos animais de Eduardo Mira Cruz vão para abate na próxima semana.