Seca: CAP condena "inação" do Governo e "atraso" no pedido de ajuda a Bruxelas
Agricultores pedem "soluções" para os criadores de gado e alertam para "quebras elevadíssimas" nas culturas de outono/inverno.
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A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) acusa o Governo de agir tarde demais para combater os efeitos da seca.
O Ministério do Ambiente e Ação Climática decidiu esta sexta-feira restringir o uso da água no sotavento algarvio, na sequência de uma reunião da comissão de acompanhamento dos efeitos da seca, quando um terço do país, especialmente no Alentejo e Algarve, está em seca severa e extrema.
Isto depois de, na terça-feira, a ministra da Agricultura ter anunciado que a Comissão Europeia está disponível para distribuir 250 milhões de euros pelos Estados-membros mais afetados pela situação de seca, incluindo Portugal.
"É preciso esclarecer que esses 250 milhões são para dividir com Espanha, Itália, França e Portugal, e que o Espanha e França há um mês que pediram esse dinheiro a Bruxelas, nós chegámos um mês atrasados", nota o presidente da CAP, Luís Mira, em declarações esta sexta-feira no Fórum TSF.
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São precisas soluções urgentes para os criadores de gado, apela o presidente da CAP. "Quem tem animais tem que lhes dar de comer todos os dias e nos próximos cinco meses essa comida tem que ser comprada e os preços estão extremamente elevados", nota.
Também aqueles que vivem do trabalho prados e pastagens "estão a sofrer", em especial "aqueles que fizeram culturas de cereais de outono/inverno", para quem "as quebras são elevadíssimas".
Também Maria José Roxo, professora da universidade Nova e especialista em seca e desertificação, defende que é urgente reforçar o armazenamento de água.
"Não podemos perder mais tempo porque não sabemos como é que vai ser o próximo outono e se chover novamente temos que saber armazenar mais água", alerta. Isto quando a investigação já comprovou que há uma relação direta "entre aquilo que fazemos na utilização dos solos e a maneira como podermos armazenar mais água para o futuro".
Dados do Sistema Nacional de Informação dos recursos Hídricos (SNIRH), sete albufeiras apresentavam disponibilidades hídricas inferiores a 40%, sendo a bacia do Barlavento algarvio, com 12,7%, aquela que apresentava no final de maio a menor quantidade de água armazenada.
O presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo, António Bota, explica que grande parte das barragens do baixo Alentejo têm níveis de água muito reduzidos, o que pode ter consequências graves.
"O concelho de Almodôvar, o concelho de Castro Verde, o concelho de Ourique e Mértola são abastecidos pela barragem da Rocha", onde a quota de água está especialmente baixa. "Depois de milhões de euros investidos debaixo do solo e infraestruturas para ligar água potável a estes quatro concelhos, estamos na iminência, devido a esta situação de seca, de não ter água nas tubagens debaixo do chão para abrir a torneira em casa", alerta.
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António Bota defende que "está na hora de construir uma barragem mais significativa que sirva de apoio ao Alqueva" e "de fazer um transvaze do norte, onde ainda chove, para a barragem do Alqueva". Também "pensar em culturas" que consumam menos água e em "soluções subterrâneas. de armazenamento de água quando chove" é essencial para prevenir a seca, apela.