"O pior que pode acontecer é perdurar a dúvida." IL quer ouvir filho de Marcelo no Parlamento
O liberal Rui Rocha considera que "há uma enorme nuvem de suspeição que paira" sobre o caso das gémeas e entende que a audição a Nuno Rebelo de Sousa é fundamental para dissipar as dúvidas.
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O líder da IL, Rui Rocha, anunciou este domingo que vai apresentar um requerimento para ouvir no Parlamento o filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, sobre o caso das gémeas.
Em declarações aos jornalistas, Rui Rocha aponta que o SNS tem "recursos limitados" e sublinha que é "preciso dizer aos portugueses se esses recursos estão a ser bem utilizados ou não, se há ou não favorecimento e, tendo eventualmente havido, então quem são os responsáveis".
Nuno Rebelo de Sousa tem sido "uma pessoa citada em várias momentos", sendo o mais recente uma notícia que dá conta de uma reunião sua com Lacerda Sales no Ministério da Saúde.
Para Rui Rocha, "o pior que pode acontecer para a democracia portuguesa é perdurar a dúvida sobre o que é que cada uma destas pessoas que têm sido citadas têm de participação neste caso".
O liberal considera que "há uma enorme nuvem de suspeição que paira sobre este caso" e entende que a audição de Nuno Rebelo de Sousa é fundamental para dissipar as dúvidas, esperando por isso que o PS não chumbe este requerimento, como fez com o de Marta Temido e Lacerda Sales.
Assumindo que este é "mais um esforço" do partido para obter "esclarecimentos", o liberal espera que não haja obstáculos a esta audição.
"Depois do chumbo que o PS fez ao requerimento de audição de Lacerda Sales e Marta Temido, parece-me que, se também este requerimento fosse chumbado, teríamos de concluir que há aqui uma intenção clara e deliberada do PS de impedir que se esclareçam os portugueses", atira, acrescentado que acredita que os socialistas não terão "sequer condições para incorrer num bloqueio dessa natureza".
Ainda assim, no cenário de um possível chumbo, Rui Rocha traça o caminho que seguirá: "Se acontecer, para além do julgamento político que essa situação terá dos portugueses, parece-me que o que a IL poderá fazer é entregar um requerimento potestativo dessa audição."
O liberal lamenta igualmente que os socialistas tenham já inviabilizado um requerimento potestativo à audição de Lacerda Sales e Marta Temido, com o argumento de que "só os governantes em exercícios de funções é que podem e devem ser chamados".
"O que é estranho, mais uma vez, porque eu recordo que, por requerimento do PS, foram ouvidos há bem pouco tempo na comissão de economia Sérgio Monteiro e Pires de Lima e Matos Fernandes", sublinhou, afirmando que "há vários exemplos de ex-governantes que são ouvidos".
"O argumento utilizado pelo PS para inviabilizar esse requerimento e essa interpretação parece-nos pouco sustentada nos factos. Mais uma razão para o PS não usar, como tem feito, a maioria absoluta para impedir esclarecimento", reforçou.
Rui Rocha aponta ainda que o Parlamento ainda está em funções, apesar de o Governo ser demissionário, por isso diz que não pode aceitar "Parlamento não exerça as funções de escrutínio".
O caso das gémeas foi revelado numa reportagem da TVI, transmitida no início de novembro, segundo a qual duas crianças luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma, - um dos mais caros do mundo - para a atrofia muscular espinhal, que totalizou no conjunto quatro milhões de euros.
Segundo a TVI, havia suspeitas de que isso tivesse acontecido por influência do Presidente da República, que negou qualquer interferência no caso.
O caso está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, pela IGAS e é também objeto de uma auditoria interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria.