Plano Ferroviário Nacional com alta velocidade para as dez maiores cidades do país
O documento, apresentado esta quinta-feira, tem, entre os objetivos, o fim das o fim das ligações aéreas domésticas em Portugal continental, de modo a cumprir a meta da neutralidade carbónica.
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O novo Plano Ferroviário Nacional prevê ligações de alta velocidade às 10 maiores cidades do país, além de a Espanha. O plano foi apresentado, esta quinta-feira, no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa, numa sessão que contou com o primeiro-ministro, António Costa, e com o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos
Naquele que é um esboço daquilo que deve ser o futuro da ferrovia, no país, nas próximas décadas, fica claro o propósito de juntar Viseu ao lote e garantir que as dez maiores cidades do país têm ligações de alta velocidade. Já no que toca aos interurbanos, há 28 centros regionais que vão ficar servidos, com a garantia de que, no mínimo, passa um comboio a cada duas horas.
Em destaque, no documento, estão a nova linha de alta velocidade Porto-Lisboa, a nova linha Porto-Vigo e a eletrificação da rede já existente.
O plano prevê que se torne possível a ligação de Lisboa e Porto a Madrid em cerca de três horas, a já notada nova linha Aveiro-Viseu-Guarda-Vilar Formoso, a reabertura total das linhas do Douro e do Alentejo, uma nova linha Trás-os-Montes, Porto-Vila Real-Bragança e um novo acesso a Lisboa, a partir de Torres Vedras, por Loures, que reduz o tempo de acesso da zona Oeste à capital.
Está ainda prevista uma nova travessia do Tejo, em Lisboa, que vai de Chelas ao Barreiro e, em estudo, uma ligação AV Lisboa-Algarve (com duas alternativas: a modernização da linha existente ou um novo eixo que junte Évora, Beja e Faro, fazendo-se a viagem entre a cidade algarvia e a capital em menos de duas horas).
O documento assume como objetivos o fim das ligações aéreas domésticas em Portugal continental e ligações frequentes que possam competir com o automóvel nos centros urbanos.
No que toca ao transporte de mercadorias, o plano passa por encurtar o trajeto dos portos de Sines, Setúbal e Lisboa até à fronteira, com a nova linha Évora - Elvas, e por duplicar capacidade de transporte por ferrovia através das fronteiras, além de novos corredores internacionais pelo Algarve e por Trás-os-Montes e de um corredor-piloto para comboios de maior dimensão, entre Sines e as fronteiras. Quanto à questão da bitola - e o isolamento de Portugal em relação ao resto da Europa -, essa terá de ser estudada à parte.
O ministro Pedro Nuno Santos acredita que este Plano Ferroviário Nacional vem colmatar uma lacuna. "É um instrumento de planeamento que Portugal não tem. Tem para a rodovia, desde a década de 80, mas não tem para a ferrovia. E um país que quer apostar neste modo de transporte tem de conseguir fazer o seu planeamento", defendeu.
Desde logo para conseguir alcançar a meta da neutralidade carbónica antes do ano de 2050, porque, nota Pedro Nuno Santos, os transportes estão entre os maiores contribuintes para as emissões poluentes e "a verdade é que se mudássemos, de um momento para o outro, os automóveis de combustão todos para automóveis elétricos, continuaríamos com muitos dos mesmos problemas" - desde a congestão nas estradas aos acidentes rodoviários.
Por isso, o Governo quer que a ferrovia roube o lugar ao automóvel nas cidades e pretende tornar o comboio elétrico no maior aliado para a transição climática. Mas, para isso, admite, o ministro é preciso solucionar o problema da falta de material circulante em Portugal.
"O Governo tinha que lançar um concurso para a aquisição de material circulante. E são 117 comboios, é a maior compra da história da CP - portanto, a maior compra de comboios da história do nosso país", sublinhou.
O primeiro-ministro, António Costa, concorda que este é o caminho a fazer, "se quisermos continuar a viver neste planeta", até porque, repara, Portugal é particularmente suscetível aos perigos climáticos.
"Em todas as consequências das alterações climáticas, nós somos um país de alto risco", constatou o chefe de Governo. "Pela erosão costeira, com a subida das águas do mar; pela seca severa em todas as regiões do Interior - e, em particular, do Interior Sul -, e também pelo dramático aumento do risco de incêndio florestal."
O plano agora apresentado, nota o primeiro-ministro, é um documento para discussão pública, que ainda regressará a Conselho de Ministros, antes de chegar ao Parlamento. Mas, dentro do próprio Governo, reconhece, há já opiniões opiniões divergentes sobre a matéria.
"Ainda hoje, no Conselho de Ministros ouvimos várias opiniões sobre este plano em concreto: quem dissesse que faltava aqui alguma coisa, quem entendesse que estavam aqui algumas soluções a mais,... Eu próprio também tenho as minhas ideias sobre essa matéria", admitiu.
"Há poucas coisas que suscitem tanta paixão como as infraestruturas de transporte. Infelizmente, muitas vezes, a paixão é tanta que se torna inconsequente. Tão platónica, tão platónica, tão platónica que se aguarda décadas pela sua consumação", atirou António Costa, em jeito de recado.
O primeiro-ministro terminou deixando o convite a todos para participarem na discussão, para construir o documento final do Plano Ferroviário Nacional.