Privatização da TAP divide sindicatos, mas todos querem empresa em "mãos de portugueses"
O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, o Sindicato do Pessoal de Voo da Aviação Civil e o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos reagiram, na TSF, à decisão do Governo.
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O Governo deu, esta quinta-feira de manhã, o primeiro passo para a privatização da TAP e espera, até julho, aprovar o decreto. Em reação a decisão, o presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, Tiago Faria Lopes, defende a privatização e espera que fique em mãos portuguesas.
"Era inevitável. Tivemos oportunidade de dizer isso ontem na comissão parlamentar de inquérito, que iria ser inevitável a TAP ser privatizada. Agora resta pedir e alertar ao Governo para que não escude o caderno de encargo de empresas do ramo aeronáutico porque vai haver um grupo de empresários portugueses que não é do ramo e estará pelo menos interessado em ver o caderno de encargos para ver se consegue concorrer à compra da companhia. Era primordial que a nossa companhia de bandeira, pela importância que tem para o país, ficasse em mãos de portugueses", pediu Tiago Faria Lopes em declarações à TSF.
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O sindicalista espera também que a TAP mantenha a base de operações em Lisboa.
"Normalmente um acionista português está a lutar por Portugal, a levar o bom nome de Portugal, e a TAP leva sempre esse bom nome no seu avião, com a sua bandeira. Além disso ficará em mãos de privados portugueses. Há um interesse nacional em que fique nos privados portugueses porque não têm tendência de levar o hub para fora de Portugal. Essa é uma grande preocupação", confessou o presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil.
Muito se tem falado do interesse do grupo que detém a Ibéria, a British Airways, dos donos da Lufthansa e do grupo da AirFrance, a KLM. O ministro da Economia, António Costa Silva, já tinha afirmado que a Ibéria não é a melhor solução e Ricardo Penarróias, presidente do Sindicato do Pessoal de Voo da Aviação Civil, tem a mesma ideia.
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"A TAP é uma empresa que tem um grande potencial, que já foi, ao longo dos anos, mal gerida, mas tem um grande potencial e só por essa razão se justifica que tantos interessados, ao longos dos anos e de forma cíclica, tenham mostrado interesse. Estamos a falar de grandes grupos consolidados e com saúde financeira. Em relação à escolha ou preferência, olhando para as perspetivas, é importante que o hub do possível comprador seja o mais afastado possível do hub de Lisboa", defendeu Ricardo Penarróias.
O presidente do Sindicato do Pessoal de Voo da Aviação Civil não questiona a privatização, mas lembra que há questões que são essenciais.
"Aquilo que para o sindicato é importante, até porque não temos uma posição nem contra nem a favor da privatização, é um processo bem feito, bem conduzido, sem pressas, evitando os erros do passado e, sobretudo, que possa ter a participação ativa dos trabalhadores neste processo. Que sejam consultados e abordados nessa matéria. Esperamos que os erros que se cometeram no passado não se voltem a repetir. A pressa é sempre inimiga da perfeição", alertou o presidente do Sindicato do Pessoal de Voo da Aviação Civil.
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Paulo Duarte, do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA), lamenta que o Governo socialista, que um dia nacionalizou a TAP, decida o contrário.
"Lamentamos profundamente. Não percebemos como é que ainda há dias os aviões da TAP eram comparados às caravelas e a empresa era importante para o país, soberania nacional e diáspora, a empresa trazia retorno financeiro e agora se tenha mudado assim de opinião como quem muda de camisa", afirmou Paulo Duarte.
O representante do SITAVA entende que esta altura não é a melhor para a privatização da TAP porque a companhia aérea é uma empresa com muitas feridas abertas.
"Nesta fase a companhia precisava de estabilizar primeiro. Há sequelas que vêm de trás, que são graves. Há denúncias de acordos, muita gente zangada, cortes. Não estão reunidas as condições internas com os trabalhadores para que a empresa tenha as condições necessárias para crescer e solidificar", defendeu o representante do SITAVA.
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Paulo Duarte considera que o Governo não aprende com os maus exemplos e que as empresas do Estado que acabaram privatizadas só mudaram para pior.
"A única coisa que garante que se acautele o que quer que seja é o Estado ter uma posição adequada no capital social. É evidente que quem compra faz aquilo que bem entende e isso pode não ser o que nós pretendemos. Digo isto com factos, basta ver todas as privatizações que têm sido feitas neste país. Nem as empresas ficaram melhores nem as pessoas que lá trabalhavam", acrescentou.