Ex-primeiro-ministro defende em declarações à TSF que se Carlos Costa tinha algo a denunciar há seis anos, devia ter falado nessa altura.
Corpo do artigo
Pedro Santana Lopes ficou estupefacto com as acusações de interferência em decisões que são apenas do regulador da banca feitas pelo ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, ao primeiro-ministro. No programa da TSF Não Alinhados desta quarta-feira, o ex-primeiro-ministro considera que se Carlos Costa tinha algo a denunciar há seis anos, devia ter falado nessa altura.
O ex-chefe do Governo acredita que o país está a assistir a um clima inédito de tensão e de traição.
"É algo nunca visto que uma pessoa saia, escrevendo as suas memórias, usando conversas com outrem, para acusar daquilo que Carlos Costa acusa António Costa. Não gosto dessa maneira de proceder, digo-lhe com franqueza. Não gosto de coisas à traição. Como calcula, do pouco tempo em que estive como primeiro-ministro, tive várias conversas com muita gente. Escrevi um livro sobre esse tempo, mas nunca me pus como acusações de que não tivesse falado na altura ao Jorge Sampaio, que já cá não está, ou a outras pessoas. Não gosto destes livros de memórias que vêm contar coisas que as pessoas na altura não tiveram coragem de denunciar. Se houve alguma coisa ilegítima devia ser dito na altura e ou Carlos Costa batia com a porta e saía ou dizia publicamente e escrevia-lhe uma carta mesmo a dizer que não lhe admitia que tivesse aquele tipo de conversas com ele porque o governador do Banco de Portugal não se deixa condicionar", explicou à TSF Pedro Santana Lopes.
TSF\audio\2022\11\noticias\16\santana_lopes_traicao_18h
O comentador da TSF não esconde que, na sua opinião, é politicamente muito significativa a plateia que esteve, na terça-feira, na apresentação do livro "O Governador" e acrescenta que é incompreensível que Marques Mendes, que muitas vezes é classificado como o porta-voz do Presidente da República, tenha estado nessa plateia e tenha atacado o Governo.
15358999
"Há um clima de guerra civil instalado entre a Presidência da República e o Governo. Há uma opção política do Presidente que é manifesta de confronto com o Governo. António Costa tem procurado assobiar para o lado, também não lhe convém, mas ontem ficou ainda mais claro. Já viu o que é um comentador semanal de um canal televisivo de grande audiência, tido às vezes como porta-voz do Presidente da República, desferir um ataque daqueles ao Governo por causa do caso Banif e também por causa desta questão de Costa vs Costa. É que termos um dirigente do PSD que é comentador televisivo é uma coisa nunca vista. Pedir ao Ministério Público para abrir um inquérito-crime em relação ao Governo anterior, mas de António Costa? O que é isto? Não vamos pensar sobre o que tudo isto significa? Querem acabar com o Governo? Os partidos metidos nisto? Ex-Presidentes metidos nisto? Não acho bem", acrescentou o ex-primeiro-ministro.