"São pessoas mais novas." Diretor do D. Estefânia explica porque não consultou Gentil Martins para separar siamesas
Rui Alves esclareceu à TSF que, ao contrário do que Gentil Martins disse, a separação das gémeas já está completa.
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António Gentil Martins, o cirurgião que separou pela primeira vez gémeos siameses em Portugal, lamentou à TSF na terça-feira não ter sido ouvido no caso de separação das gémeas siamesas de quatro anos. Em resposta, o diretor do serviço de cirurgia pediátrica do Hospital D. Estefânia, Rui Alves, diz que o papel do ex-cirurgião não será esquecido. Depois de ter trabalhado dez anos com Gentil Martins, o responsável argumenta que a ciência evoluiu nas últimas décadas e há novas perspetivas de trabalho.
"A última cirurgia foi feita em 1999, já passaram 24 anos. São outras pessoas, são pessoas mais novas, são outras perspetivas de encarar, de uma forma diversa, os problemas cirúrgicos com outra tecnologia que não havia há 24 anos e as coisas, felizmente, correram bem, mas volto a frisar e quero que fique registado que eu, enquanto diretor deste serviço, presto sempre homenagem ao professor António Gentil Martins pelo papel importantíssimo que ele teve no serviço que agora sou eu que dirijo e que, há 24 anos, era ele que dirigia e que o seu papel nunca será esquecido, logicamente, na cirurgia pediátrica portuguesa e, principalmente, neste tipo de cirurgias", explicou Rui Alves.
António Gentil Martins confessou também à TSF ter estranhado que a separação não tenha sido concluída de uma só vez, mas Rui Alves esclarece que foi.
"Deve ter havido um erro de interpretação. A separação foi completa, as crianças ficaram fisicamente completamente separadas na cirurgia inicial. O segmento hepático era comum às duas e teve de ser separado também. Foram separadas totalmente na primeira cirurgia. O que optámos, por segurança e para não haver compressão de estruturas nobres, foi pelo encerramento fascial muscular e cutâneo das bebés na cirurgia. Elas ficaram com o tal instrumento alemão de distração dos tecidos moles e foram encerradas diferidamente. A primeira foi encerrada ontem e esperemos que, durante esta semana, consigamos fechar a outra", esclareceu o diretor do serviço de cirurgia pediátrica do D. Estefânia.
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O Hospital D. Estefânia, em Lisboa, realizou a 28 de julho uma cirurgia rara "de enorme complexidade e risco" de separação de gémeas siamesas com quatro anos, unidas pela zona do abdómen e região pélvica, e que "foi um êxito".
No processo de separação foi necessário reconstruir parte do sistema urinário das gémeas, que tinham duas bexigas autónomas, mas ambas tinham os ureteres - canais que transportam a urina - ligados à bexiga da irmã, tendo sido necessário fazer a ligação correta.
Assim que recuperarem, as crianças vão precisar de intervenção ao nível ortopédico. Devido à ligação que tinham pela região abdominal, as crianças de quatro anos nunca andaram, pelo que aprender a andar levará a que seja necessário uma intervenção cirúrgica e fisioterapia para promover a autonomia da marcha.
As gémeas chegaram até ao hospital português ao abrigo de um protocolo de cooperação da Direção-Geral da Saúde (DGS).