Sentença de Rui Pinto foi "justa" e reflete "o extraordinário serviço público" prestado
A ex-candidata presidencial, Ana Gomes, rejeita, em declarações à TSF, a possibilidade de a pena atribuída a Rui Pinto incentivar mais jovens a seguir o seu exemplo, sublinhando as "implicações dramáticas que isto teve para a vida" do hacker.
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A antiga eurodeputada Ana Gomes, que sempre defendeu publicamente Rui Pinto, considera que a sentença atribuída ao hacker português foi "justa" e é resultado do "extraordinário serviço público" que o pirata informático prestou.
"Eu acho que foi uma sentença equilibrada e justa na medida em que ele admitiu ilegalidades, ele declarou também no tribunal arrepender-se dessas ilegalidades que cometeu, mas, ao mesmo tempo, a sentença - pelos vistos - leva em conta o extraordinário serviço público que ele prestou com as revelações do Football Leaks e do Luanda Leaks e que foram de uma ajuda extraordinária para as autoridades de diversos países - as que quiseram fazer justiça contra o crime organizado ligado quer ao futebol quer à cleptocracia angolana", defende Ana Gomes, em declarações à TSF.
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A também ex-candidata presidencial considera que Rui Pinto teve desde logo um mérito: o de mostrar fragilidades em vários sistemas informáticos e, nesse sentido, sublinha a importância deste caso para a justiça portuguesa e europeia.
"É um caso diferente porque pela primeira vez temos um whistleblower - um lançador de alertas - que tem capacidades informáticas extraordinárias e que põe a nu vários sistemas informáticos absolutamente vulneráveis e frágeis, incluindo não só escritórios de advogados, mas das próprias autoridades, a começar pelo próprio setor da justiça", afirma.
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Ana Gomes destaca o "impacto [deste caso] ao nível dos meios de reforço desses mesmos serviços", revelando ainda esperar que o "Citius e os sistemas informáticos que sustentam o sistema de justiça estejam hoje muito mais fortes do que quando Rui Pinto, um jovem com aptidões quase autodidatas em informática, conseguiu penetrá-los".
Questionada sobre se o facto de não ter havido pena de prisão efetiva, poder incentivar mais jovens a seguir o exemplo de Rui Pinto, a antiga eurodeputada salienta o que o hacker sofreu neste processo.
Ana Gomes refere não só o ano em que Rui Pinto esteve preso "em confinamento", mas o facto de ter estado "estes anos todos com uma vida completamente perturbada: escondido, protegido, porque a sua vida corria risco".
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"O Rui Pinto já pagou e eu penso que isso poderá ter sido um dos aspetos que foi levado em conta pelo tribunal", ressalva.
A ex-candidata presidencial insiste na premissa de que o pirata informático não só já "pagou" pelas "ilegaidades que ele próprio admitiu ter cometido", como as pagou "duramente".
"Outros jovens certamente que não serão indiferentes às implicações dramáticas que isto teve para a vida de Rui Pinto, sendo que, ao mesmo tempo, ele tem a satisfação de ter prestado um serviço público inestimável à defesa dos interesses de todos nós", conclui.
Rui Pinto foi esta segunda-feira condenado a uma pena única de quatro anos de prisão, suspensa na execução. O tribunal considerou o criador do Football Leaks culpado dos crimes de tentativa de extorsão ao fundo de investimento Doyen, de três crimes de violação de correspondência agravado aos advogados João Medeiros, Rui Costa Pereira e Inês Almeida Costa e cinco de acesso ilegítimo a Doyen, Sporting, Federação Portuguesa de Futebol, sociedade de advogados PLMJ e Procuradoria-Geral da República.