TAP: Pires de Lima diz ser "falso" que tenha autorizado compra de aviões acima do preço
Antigo ministro garante haver documentação "assinada, entre outros, pelo respeitável empresário senhor Humberto Pedrosa" que não só fundamentava a compra como garantia que seria feita com "descontos de 4 a 5%".
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"Falso, infundado e injurioso." É assim que o antigo ministro da Economia António Pires de Lima responde às suspeitas de que o governo PSD/CDS tenha autorizado a compra de 53 aviões Airbus A320 neo e A330 neo, acima do preço de mercado, para a TAP.
O antigo governante está a ser ouvido esta tarde na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação sobre a privatização da companhia aérea e garante que a compra acima do "preço justo" não aconteceu.
"É totalmente falso, infundado e injurioso que o Governo, através de mim ou do senhor secretário de Estado Sérgio Monteiro, tenha autorizado ou sido condescendente com uma aquisição de aviões acima do preço justo de mercado", sublinhou Pires de Lima. "Aliás, continua a ser minha convicção, não se verificou", acrescentou.
No início de fevereiro foi noticiado que o Ministério Público está a investigar a compra dos 53 Airbus porque a TAP poderá ter pago 320 milhões de euros a mais pelas aeronaves, resultando num custo 20% superior aos valores praticados no mercado.
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O jornal Eco escrevia que, quando assumiu a TAP, o antigo acionista David Neeleman alterou um contrato que previa o leasing de 12 aviões A350 para o tornar num de aquisição das mais de 50 aeronaves.
Esta tarde, Pires de Lima garantiu que os passos e decisões do Governo tinham como base o pressuposto "garantido por escrito, em documentação assinada, entre outros, pelo respeitável empresário senhor Humberto Pedrosa" de que a compra dos 50 aviões não só era "adequada para a execução do novo plano estratégico da TAP", como seria feita "com descontos de 4 a 5%" face ao preço justo de mercado.
O antigo governante sublinhou que este "desconto" significa menos 233 milhões de euros face ao preço justo de mercado.
"Considero ainda também altamente improvável que tenhamos sido enganados e tenha havido qualquer golpe na TAP e os aviões tenham chegado acima do preço de mercado", disse, referindo-se a David Neeleman, Humberto Pedrosa e à própria Airbus.
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Pires de Lima recordou ainda que, além de nove avaliações - três por modelo - realizadas por "entidades credíveis", a compra dos novos aviões foi aprovada pelo Conselho de Administração da TAP e ratificada pelo Conselho Fiscal da empresa.
"Que se investigue"
O antigo governante acrescentou também ao rol de improbabilidades que o atual Governo do PS, "tendo mandatado uma equipa liderada pelo dr. Lacerda Machado, que para mim é respeitável e não ponho em causa, tivesse vivido durante ano e meio no equívoco de que aquela capitalização não era uma capitalização".
Perante essa atitude, analisa o ex-ministro, o atual governo socialista e os mandatários "aceitaram por boa toda a troca de informação que existia na Parpública em 2015 e 2016 e deram por adquirido que a capitalização tinha sido uma capitalização".
Pires de Lima argumenta que, se não tivesse sido esse o caso, "não se tinham disponibilizado para comprar à [Atlantic] Gateway a percentagem de capital necessário para retomarem o controlo estratégico da companhia".
Apesar das suas convicções, o antigo responsável pela Economia defende que, "a partir do momento em que há elementos, sejam eles credíveis ou não, que põem em causa a palavra" de Neeleman, Pedrosa e da Airbus, deve haver lugar a investigações.
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"Eu próprio como português, cidadão e responsável político acho muito bem que o Ministério Público investigue e apure a verdade relativamente a esta matéria. Se há dúvidas, se há questões e se há dados supostamente novos, que se investigue. Não tenho qualquer problema com esta matéria", garantiu.
*notícia atualizada às 16h43